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João Augusto de Castro Neves

TENDÊNCIAS/DEBATES

Ouvindo a mensagem das urnas

Falcão e Goldman escrevem que PT e PSDB estão mais fortes. Na verdade, ficaram na mesma. E são mesmo duradouros PSB e PSD, tão citados por analistas?

Tentar encontrar as conexões entre o desempenho dos partidos políticos nas eleições municipais e o equilíbrio de poder no plano nacional é uma tarefa bastante fácil. Afinal, há critérios para todos os gostos. A depender da lente escolhida, tem-se o resultado desejado para sustentar qualquer análise.

Um claro exemplo disso pôde ser visto nesta seção da Folha na sexta-feira, no debate entre os presidentes do PSDB, Alberto Goldman, e do PT, Rui Falcão, sobre o desempenho eleitoral dos dois partidos.

Enquanto Goldman ressalta o bom desempenho de sua legenda nas grandes cidades, Falcão celebra a expansão de seu partido em números totais de municípios.

Quem está certo?

De uma maneira geral, os números produzidos pelas urnas em outubro não são suficientes para declarar grandes vencedores e derrotados entre os maiores partidos nacionais. Enquanto alguns ganharam em número de prefeituras totais, outros perderam capitais e vice-versa. Nesse sentido, pode-se dizer que o espólio eleitoral foi distribuído equilibradamente entre PMDB, PSDB e PT, que, apesar das oscilações, permanecem como as três maiores forças políticas no plano municipal, nessa ordem.

Já o desempenho de partidos antes tidos como médios, como PSB e PSD, tem merecido mais atenção dos analistas. Seria um sinal incipiente de mudanças tectônicas na topografia político-partidária nacional.

Mas dado o reduzido grau de identificação partidária, é quase impossível extrair algum significado mais estrutural ou duradouro desses movimentos.

Enquanto o PSB pegou carona na imagem de um líder regional e colheu frutos de alguns arranjos regionais proveitosos, o PSD se beneficiou de sua plasticidade ideológica e de um naco herdado do moribundo DEM.

Até 2014, a evolução dessas legendas dependerá menos de força própria e mais das articulações com os principais partidos da órbita governista ou da oposição.

Mas uma conexão potencialmente mais reveladora entre as urnas e a política nacional é o fato de a maioria dos prefeitos ou partidos que controlava as grandes cidades ter tido dificuldade para se reeleger.

Um sinal da maior competitividade foi o número elevado de segundo turnos nas capitais. Outro foi a redução do índice de sucesso de reeleição dos prefeitos nessas capitais. Finalmente, observou-se também uma troca razoável de partidos ou coligações no comando de grandes cidades.

Apesar de não ser a única, uma hipótese plausível aponta para os seguidos anos de expansão econômica e sua repercussão no âmbito político. O crescimento econômico da última década -e o aumento do consumo que veio junto- desempenhou um papel no agravamento de alguns problemas urbanos, como engarrafamentos e poluição. Impacto mais relevante, todavia, foi o crescimento de uma classe média com expectativas políticas mais elevadas.

O desafio para prefeitos nessas grandes cidades, portanto, é o de atender a essas demandas crescentes por melhores serviços públicos. Mas enquanto a economia desacelera e as receitas encolhem, governantes locais têm de se ajustar para lidar com um ambiente econômico mais desfavorável ao mesmo tempo em que administram esses novos desafios políticos e socioeconômicos.

A longo prazo, essa mensagem das urnas pode ser um presságio de uma mudança mais profunda no comportamento político da sociedade brasileira no plano nacional.


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