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Ruy Castro

Vou te dar um anel

RIO DE JANEIRO - Descendo em Congonhas e já caindo num engarrafamento, achei graça quando o taxista, apontando para o quilômetro de carros parados à nossa frente, me disse: "Olhe só para isso, senhor. A que horas está marcado o seu apontamento?". Apontamento, do inglês "appointment", é o que, no Brasil, chamamos de encontro, compromisso. Talvez o taxista estivesse sendo irônico. Não. Era a sério, mesmo.

Nossa paixão pela língua inglesa atinge agora um novo e importante estágio: passamos a falar inglês diretamente em português. Basta ver como se tem usado a palavra "plant", fábrica -como planta. "Plantation", fazenda, como plantação. "Office", escritório, como ofício. "Support", apoiar, como dar suporte. "Actually", de fato, como atualmente. E "style", elegância, como estilo ("Fulano é cheio de estilo").

Em breve, as piadas com que zombávamos do falso domínio da língua pelos pedantes serão realidade. "I'll give you a ring", vou te telefonar, se transformará em "Vou te dar um anel". "I can't help myself", não posso evitar, se tornará "Não posso ajudar a mim mesmo". E não será surpresa se, diante de "It's raining cats and dogs", está chovendo paca, começar a chover gatos e cachorros.

Não se vê essa infestação linguística na França, na Espanha ou em Portugal. Com ou sem coerção oficial (de resto, inútil) aos estrangeirismos, é o povo daqueles países que prefere preservar as formas de falar com as quais nasceu e que identifica como suas.

Você dirá que esse problema é velho entre nós, e que "football" tornou-se futebol quando o certo seria -Deus me livre- ludopédio. Mas não é a mesma coisa. O futebol era uma disciplina nova, trazida de fora, e era normal que seu léxico, implantado aqui, fosse uma adaptação do original. Mas por que "button", botão, se tornou no Brasil "bottom", nádega, bunda?


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