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Ruy Castro

O autor de inéditos

RIO DE JANEIRO - Deu na imprensa: Dalton Trevisan acaba de ganhar um prêmio literário com um livro de contos inéditos. Até aí, nada de mais: Dalton deveria ganhar prêmios literários todo ano. Mas atenção para o detalhe, que os repórteres não deixaram de observar: os contos eram inéditos. Dá-se muita importância hoje a tudo que é inédito.

Isso demonstra a grande coerência de Dalton. Quando ele estreou na literatura, em 1959, com "Novelas Nada Exemplares", já era um livro de contos inéditos. Depois veio "Cemitério de Elefantes" (1964), idem, de inéditos. Em seguida, "Morte na Praça" (1964) e a obra-prima "O Vampiro de Curitiba" (1965), ambos também de inéditos. E assim continuou, até hoje. Desde cedo Dalton encontrou sua forma ideal de expressão: escrever contos inéditos.

É claro que não foi o primeiro a fazer isso. Antes dele, Shakespeare já escrevera uma peça inédita, "Hamlet" (c. 1600); Edgar Allan Poe, o poema inédito "O Corvo" (1845); e James Joyce, o romance inédito "Ulisses" (1922). Sem falar em Machado de Assis, Lima Barreto, Marques Rebelo. Parece que escrever inéditos é uma mania dos escritores. Os poucos que fugiram a essa regra -ou seja, escreveram coisas não inéditas- arriscaram-se a processos dos autores originais.

Modestamente, eu próprio tive de me submeter. Todos os livros que publiquei, entre os quais "Chega de Saudade" (1990), "O Anjo Pornográfico" (1992) ou "Carmen - Uma Biografia" (2005), eram inéditos. É verdade que, logo que foram publicados, deixaram de ser inéditos. Tornaram-se éditos. Mas nem assim os colegas ficaram satisfeitos. Sempre me perguntam se estou preparando algum novo livro inédito.

Para mim, o único escritor autêntico de livros inéditos é o de província, que tem uma gaveta cheia de livros de contos ou de poemas que, tadinho, ele não consegue publicar.


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