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Ruy Castro

Leitores de verdinhas

RIO DE JANEIRO - Todo mundo sabe o que é um livro. Mas sabe mesmo? É um conjunto de folhas impressas, presas pelo lado esquerdo. As folhas costumam conter letras ou figuras, em cores ou em PB, e o que varia é o conteúdo. Pode ser, digamos, uma história de Jorge Amado. Ou podem ser cédulas azul-esverdeadas, com a figura da República e, estranhamente, a de uma garoupa, no verso. Quando é esse o caso, tal livro é de autoria do Banco Central e se intitula "Cem Reais" -ou este valor multiplicado pelo número de cédulas, digo páginas, que tal "livro" contém.

Pois, desde já, devemos essa nova definição de livro à desarticulada Operação Porto Seguro, protagonizada -por enquanto- por ex-chefes de agências governamentais, advogados, empreiteiros, um ex-senador, seus respectivos maridos e mulheres e, provavelmente, gente mais graúda, envolvendo licitações, franquias, laudos, diplomas e pareceres falsos, tudo sob a inspiração da ex-chefe do escritório da Presidência em SP e amiga do ex-presidente Lula.

Segundo a Polícia Federal, sempre que os membros da quadrilha precisavam mencionar os valores constantes na saraivada de propinas trocadas entre eles, a palavra usada para isso era "livros", não dinheiro. Está tudo nas conversas gravadas pela PF. São frequentes as referências aos "livros" enviados de uns para os outros, aos "livros" que fulano estaria devendo a beltrano ou ao "livro" que sicrano estaria levando para "ler" em viagem. Livros, aliás, sem títulos ou autores.

Com tantos livros em cena, poderiam ter formado um Clube do Livro ou uma biblioteca circulante, dos quais também sairiam enriquecidos -de cultura, claro. Pena que os "livros" com que se mimoseavam fossem impressos pela Casa da Moeda.

Não importa. Tudo indica que terão muito tempo no futuro para ler livros de verdade.


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