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Opinião

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Paula Cesarino Costa

Sete cercas

RIO DE JANEIRO - A cidade está em festa. O calor é sufocante. Tira as pessoas de casa. Gente que vem de fora passeia nas ruas admirada, mas o corpo parece grudar. Gente que mora em barracos precariamente ventilados nas favelas busca áreas ao ar livre para respirar melhor.

A cidade é de todos. Gente de todo o mundo, de muitas partes do Brasil. Nas calçadas, nos parques, nas areias. Mas parece ser de alguns um pouco mais do que de outros.

Na areia da praia de Copacabana, durante a virada do ano, empresas ocuparam grandes áreas com tendas imensas reservadas para convidados, distinguidos com pulseirinhas VIPs multicores.

Na praia de Ipanema, quiosques faziam suas festas particulares -pagas- privatizando trechos da areia.

Na Lagoa, alguns quiosques, que já funcionam normalmente sem autorização, aumentavam suas áreas sem cerimônia. O que já é irregular, tornou-se escandalosamente irregular.

A cidade segue muito desigual.

Últimos dias do ano de 2012: em uma rua de Ipanema -no trecho que passou anos desvalorizado e atemorizado pela ameaça de traficantes que desciam para o asfalto-, uma família caminha e para a cada monte de sacos de lixo.

A expressão de cada um impressiona pela falta de esperança e pela crueza da normalidade da situação. Abrem cada saco de lixo. Mexem em todos. Caçam todo tipo de objeto que possa ter valor ou utilidade. Estão longe de ser os únicos. Estão bem distante da ascensão estatística das classes pobres.

A cidade que se diz maravilhosa tem custo de vida de país desenvolvido e muitos cidadãos com condição de vida mais que subdesenvolvida.

Que no final de 2013 mais gente esteja na rua atrás somente de alegria. Que a areia seja de todos. Que, na virada para 2014, para pular sete ondinhas do mar, não seja preciso pular sete cercadinhos na areia.


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