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Mario Garnero

Pós-Davos e o mundo não acabou

O Brasil deve aproveitar a mão de obra desempregada da Europa para qualificar seus próprios profissionais e ganhar competitividade internacional

Depois do fim do Fórum de Davos de 2012, o pessimismo dos economistas presentes quase me fez acreditar nas previsões maias: o mundo realmente poderia acabar até dezembro. Enquanto os políticos tinham discursos por demais otimistas, os economistas previam o apocalipse: a Europa precisaria tomar medidas drásticas de austeridade. A Grécia precisava de alguma reinvenção. As empresas globais estavam fadadas ao prejuízo.

Numa pesquisa feita pela PricewaterhouseCoopers com CEOs em Davos, somente 25% dos líderes empresariais presentes acreditavam que suas empresas poderiam crescer em 2012. Os outros 75% acreditavam, no mínimo, em estagnação. Em sua maioria, apostavam no encolhimento drástico dos próprios negócios. Era o fim do mundo.

E testemunhamos o que aconteceu: a Grécia começou o ano numa panela de pressão. Portugal e Espanha também se viram nessa situação. Os mercados se acomodaram. Algumas medidas de austeridade foram tomadas (em sua maioria, atrasadas). O desemprego cresceu na Europa, as trocas comerciais caíram, mas o mundo não acabou. Nem a Europa, aliás.

Há poucos dias, o novo Fórum de Davos aconteceu. Novas previsões de um apocalipse econômico foram levantadas, mas ouso fazer aqui a minha previsão: o mundo não vai acabar. E vou além: se o Brasil souber aproveitar as mudanças que estão acontecendo, pode entrar em uma onda de crescimento real e consistente.

Por exemplo, se há um índice alto de desemprego na Europa e existe uma carência de mão de obra qualificada no país, então os profissionais de lá não só devem ser reaproveitados por aqui, como podem nos ajudar a qualificar nosso próprio contingente.

Grandes empresas pelo mundo estão de olho no Brasil -por tabela, as mais conceituadas universidades dos Estados Unidos e da Europa estão oferecendo facilidades para atrair estudantes brasileiros. Nós precisamos aproveitar todas essas oportunidades. A formação de profissionais tem que ser nossa prioridade, porque é exatamente aí que perdemos competitividade.

Também são os profissionais bem formados que vão brigar pela qualidade de serviços e de infraestrutura do país. Hoje temos cerca de 10 mil estudantes se graduando lá fora. Quando tivermos 100 mil, eu ficarei mais tranquilo. Porque é impossível ignorar 100 mil pessoas altamente preparadas e qualificadas, que querem e podem buscar soluções. Porque são essas pessoas que sabem como funciona o mundo e que vão brigar para que o Brasil comece a andar direito.

É claro que, antes disso, podemos alicerçar nossa moeda e controlar a inflação. Mas não adianta ter uma moeda forte e inflação controlada, se, ao mesmo tempo, temos portos ineficientes, estradas esburacadas, uma rede ferroviária nula e uma rede de telecomunicação que irrita e envergonha diariamente (a inclusão do código da operadora para ligações em DDD e DDI é inexplicável. Já foi difícil para que nós compreendêssemos a lambança. Agora tente fazer um estrangeiro entender que ele não pode simplesmente dar um recall, porque é preciso redigitar todos os números, incluindo o bendito código da operadora.).

O fato é que o mundo vê hoje o Brasil com lentes embaçadas. Sabe-se que estamos trilhando um bom caminho, mas ainda nos são cobradas as medidas certas na reforma tributária, na infraestrutura e no setor de energia. Vamos continuar em frente, o mundo não vai acabar. Mas essa estrada requer muito trabalho, porque, se a encararmos como um passeio, nossa espiral de crescimento pode ter fim. E o caminho de volta é muito mais árduo de se trilhar.

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Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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