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Hélio Schwartsman

Missa em latim

SÃO PAULO - Ao contrário da esmagadora maioria dos comentários que li na imprensa, torço para que o conclave eleja um papa tão ou mais conservador do que Bento 16. Até entendo que as pessoas defendam o que imaginam ser o melhor para a Igreja Católica, mas creio que estejam deixando passar o essencial.

E o essencial é que hoje, ao contrário do que ocorria alguns séculos atrás, a religião já não precisa atravancar a vida de ninguém. Se, no passado, um herege podia ser assado em praça pública e a excomunhão significava uma sentença de morte em vida, agora, pelo menos nos países democráticos, os ensinamentos morais da Santa Sé não impedem uma pessoa de viver como preferir, inclusive no campo da sexualidade.

Quem não concorda com os catecismos do Vaticano é livre para ignorá-los ou contestá-los. Religiosos que consideram equivocadas as interpretações que o sumo pontífice faz das Escrituras podem buscar outros cultos ou fundar sua própria igreja. As vantagens fiscais são consideráveis.

No mais, é complicado sugerir que nós, progressistas, podemos dizer o que pensamos acerca de tudo e os papistas, por serem reacionários, não gozem da mesma prerrogativa. Teríamos um problema de saúde pública se as autoridades dessem ouvidos ao que o Vaticano prega em relação à camisinha, mas, felizmente, isso já não ocorre há décadas no Brasil.

O bônus do laicismo é que a palavra do papa, que antes tinha poder de vida e morte sobre católicos e não católicos, hoje concorre com centenas de outras visões de mundo, religiosas e seculares, e cada qual é livre para abraçar a que mais lhe aprouver.

E por que quero um papa conservador? Para mim, que não estou preocupado com a disputa por fiéis nem com a vitalidade da religião, só o que torna a Igreja Católica interessante é seu aspecto museológico, isto é, a janela que ela abre para o passado. Por razões opostas, eu e Marcel Lefebvre preferimos a missa em latim.


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