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Corpo de Ruy Mesquita é enterrado em São Paulo

Cerimônia contou com a presença de políticos, jornalistas e empresários

Despedida é marcada por depoimentos sobre atuação do diretor de 'O Estado de S. Paulo' na oposição à ditadura

DE SÃO PAULO

O corpo do jornalista Ruy Mesquita foi enterrado ontem à tarde em São Paulo, após uma cerimônia em que políticos, jornalistas e empresários elogiaram a atuação do ex-diretor de "O Estado de S. Paulo" e do "Jornal da Tarde" em defesa da liberdade de imprensa durante a ditadura militar (1964-1985).

Ele morreu anteontem, aos 88 anos, em consequência de um câncer na base da língua. O jornalista estava internado havia 26 dias no Hospital Sírio-Libanês.

Estiveram presentes no velório e no enterro autoridades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT).

Compareceram também os ex-governadores José Serra e Laudo Natel, os ex-ministros Miguel Jorge e Celso Lafer e empresários como Lázaro Brandão e Luiz Trabuco, presidente do conselho e presidente do Bradesco, respectivamente.

José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, Fábio Barbosa, presidente do grupo Abril, e Otavio Frias Filho, diretor editorial do Grupo Folha, que edita a Folha, também estiveram na cerimônia.

O velório foi na casa de Mesquita, no bairro do Pacaembu, e o enterro no cemitério da Consolação, na região central da cidade.

GENERAL EXPULSO

Miguel Jorge, ex-diretor de Redação do "Estado", contou que, quando a ditadura implantou a censura prévia nos dois jornais do grupo, em 1972, um general teve um reunião na sala de Mesquita.

À época, Mesquita dirigia o "Jornal da Tarde", publicação que criara em 1966.

Minutos após o início do encontro, segundo Jorge, jornalistas ouviram gritos de "fora, fora!". "O dr. Ruy expulsou o general da sala. A redação inteira do Jornal da Tarde' aplaudiu", disse ele.

Mesquita apoiou o golpe de 1964 e o novo regime no início, mas passou a criticá-lo no ano seguinte.

"Ele dizia o que pensava e lutava pelo que acreditava", disse o ex-presidente Fernando Henrique. "Foi um democrata, um homem que não tinha meias palavras. Era um jornalista que ia buscar as informações precisas, mas também interpretava".

Para Serra, os editoriais do "Estado" eram leituras indispensáveis quando ocupou cargos públicos.

"Às vezes, como prefeito ou governador, eu via a análise [do editorial] e aprendia sobre um tema que envolvia o meu governo".

DEBATE PÚBLICO

O jornalista Eugênio Bucci, professor da USP e ex-presidente da Radiobrás, ressaltou a qualidade que Mesquita e os irmãos impuseram à página de opinião do "Estado".

"Na história da imprensa, do final do século 19 até agora, a página 3 é a coluna vertebral da opinião pública no Brasil. Concordando ou discordando, é uma radiografia do debate público", disse.

Em tributo a Mesquita, o espaço do principal editorial da página 3 foi publicado em branco ontem, apenas com o símbolo do jornal.

Para Bucci, a homenagem "fecha uma era e deixa uma pergunta": quem vai substitui-lo e como será aquele espaço no futuro? O Grupo Estado ainda não decidiu quem irá suceder Mesquita como diretor de Opinião.

"Não era um homem de negócios que tocava um jornal. Era um jornalista. Apesar das divergências [que tínhamos], é inegável que estamos falando de um homem de ideias que não fugia ao debate. Isso é essencial para a democracia", afirmou o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Américo (PT).

Mesquita deixa a mulher, Laura Maria Sampaio Lara Mesquita, os filhos Ruy, Fernão, Rodrigo e João, 12 netos e um bisneto.


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