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Análise
Coordenação da presidente falha outra vez no Congresso
FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIANo dia seguinte à aprovação da Medida Provisória dos Portos, neste mês, integrantes da equipe dilmista enviaram recados via SMS a seus interlocutores: "Ideli e Gleisi mandam lembranças".
O governo estava feliz. Considerava ter obtido uma grande vitória após submeter a Câmara a uma de suas mais longas sessões na história.
Como a medida provisória que trata de modernização dos portos foi aprovada, formou-se uma percepção positiva dentro do Planalto a respeito do trabalho das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Elas são responsáveis pela articulação política entre o Poder Executivo e o Legislativo.
Só que no Congresso a impressão é diferente. Gleisi e Ideli são vistas como meras despachantes da presidente.
Congressistas acham que Dilma Rousseff não se envolve diretamente nas negociações, a dupla de ministras não tem poder para negociar e tudo anda sempre mais devagar do que poderia.
Com a aprovação da Medida Provisória dos Portos, passaram a existir duas realidades distorcidas.
O Congresso exagera ao máximo nas críticas a Gleisi e Ideli (até porque os deputados e os senadores preferem poupar Dilma). No Planalto se instalou a crença de que tudo sempre se resolve na Câmara e no Senado.
Ocorre que a deterioração da articulação política continuou sua marcha depois da MP dos Portos. Isso ficou evidente já no dia em que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), propôs nunca mais aceitar votar medidas provisórias com menos de sete dias de prazo.
Era como se tal decisão pudesse se autocumprir sem esforço. A regra dos sete dias foi aclamada por todos em 16 de maio. Nessa data, qualquer senador poderia verificar que duas medidas provisórias estavam muito próximas de suas datas de prescrição --a das contas de luz e a das desonerações fiscais para vários setores da economia.
Só anteontem à noite senadores dilmistas pareciam ter percebido a conjuntura. Houve manobras, que deram errado. Renan manteve os sete dias. As MPs prescrevem na segunda-feira.
A fragilidade na articulação política continua sendo tratada sem que as causas do problema sejam extirpadas. Como o Planalto acha que as coisas estão dentro da normalidade democrática, o clima de tocaia entre Executivo e Legislativo permanecerá.