Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Posto de fronteira na selva fecha às 20h

Falta de efetivo noturno em área vizinha a Peru e Bolívia compromete combate ao narcotráfico e à imigração ilegal

Folha acompanhou a Operação Ágata 7, maior mobilização de militares e civis no país desde a Segunda Guerra

PATRÍCIA CAMPOS MELLO ENVIADA ESPECIAL À REGIÃO NORTE

Na semana passada, um grupo do Exército brasileiro patrulhava de barco o rio Acre, na tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Peru. Os militares pararam uma canoa em busca de coca ou contrabando. Enquanto vistoriavam o barco, o boliviano Bento Gonzalez atravessava tranquilamente a pé, atrás deles, pelo igarapé que separa o Peru da Bolívia. Tinha ido comprar macarrão no Peru.

"Tem documentos?"

"Não, não é preciso. Sempre cruzo para o Peru e para o Brasil sem documentos."

Na fronteira entre as cidades de Bolpebra (Bolívia), Iñapari (Peru) e Assis Brasil, Brasil, não há fiscalização. A única vistoria ocorre no posto da Receita Federal e Polícia Federal em Assis Brasil --mas, depois das 20h, não há ninguém trabalhando lá.

"Não temos efetivo suficiente para fazer o turno da noite", diz o delegado Flávio Henrique de Avelar, da Polícia Federal do Acre. Cerca de 20% da cocaína do mundo é produzida na Bolívia, 42% no Peru e 38% na Colômbia.

Assis Brasil, por onde entram também os refugiados haitianos, é uma boa amostra do desafio que representa patrulhar os 16,9 mil quilômetros de fronteira.

As Forças Armadas iniciaram em 18 de maio a Operação Ágata 7, sua maior mobilização desde a Segunda Guerra Mundial --cerca de 25 mil militares e 10 mil civis de órgãos como a Polícia Federal espalhados pela fronteira. A meta é desenvolver uma ação coordenada entre Forças Armadas, PF, Força Nacional e Polícia Rodoviária e inibir tráfico e outros crimes.

A Folha acompanhou quatro missões da operação, no Acre e em Rondônia, na fronteira com a Bolívia e o Peru, durante uma semana. Ficou claro que policiar a fronteira é um desafio enorme.

Há acordos para estimular a integração das populações nas fronteiras e muitas vezes não se fiscaliza na divisa. Mas a ideia é que a vistoria se dê a alguma distância dali, o que muitas vezes não ocorre.

Um bom exemplo é a ponte que liga Puerto Evo Morales, Bolívia, e Plácido de Castro, Brasil. Brasileiros cruzam a fronteira para comprar nas lojas baratas dos bolivianos, e os bolivianos, para usar escola e hospital no Brasil. Não há nenhum tipo de fiscalização. Entra e sai quem quer.

O primeiro posto de fiscalização 24 horas fica a 70 quilômetros dali e, antes dele, há estradas de terra que permitem desviar da vistoria.

No rio Abunã, que separa os dois países, é a mesma coisa. Segundo policiais, passa gente em canoas levando pasta-base de coca. Uma caixa de cigarros, com 500 maços, comprada por R$ 350 na Bolívia, sai por R$ 800 no Brasil.

"Dá uma olhada aqui nas margens do rio, não tem nada, qualquer um pode passar; a gente não tem efetivo para estar em todos os lugares", diz o tenente André Lima Costa, 28 anos. "É uma utopia a vigilância de 100% da fronteira".

Patrulhar as fronteiras não é atribuição das Forças Armadas. Isso cabe à PF. Mas desde 2010 leis dão às Forças poder de policiar e prender em flagrante na faixa de 150 km a partir da fronteira.

"Nós apreendemos três tratores e motosserras de madeireiros ilegais", contou o tenente Rogério Carvalho, que chefiou missão em Mapinguari. "Mas não estamos aqui nos outros 360 dias do ano."

A reserva ambiental federal Mapinguari tem 18 mil quilômetros quadrados, quase do tamanho de Sergipe. Mas só dois agentes do ICMBio fazem a fiscalização. Resultado: todo dia sai do parque um caminhão carregado de ipê, jequitibá, cedro ou roxinho. Na cidade de Extrema, perto do parque, há 6.000 habitantes --e 38 madeireiras.

Uma das principais apostas para a fiscalização é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, conjunto de radares cujo valor total deve chegar a R$ 12 bilhões.

"Nossa fronteira é muito extensa e os rios não são obstáculo, tudo isso facilita a entrada de drogas", diz o general Ubiratan Poty, da 17ª brigada de infantaria de selva.

"Nem os EUA, que só têm 3.100 km de fronteira com o México e não têm selva, conseguem evitar que os mexicanos entrem", diz um oficial.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página