Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

O monge executivo

Coordenador da Jornada da Juventude, dom Orani Tempesta deixou a vida em mosteiro para colaborar com a estratégia de comunicação da Igreja Católica no Brasil

FABIO BRISOLLA DO RIO

Antes de se tornar santo, o monge francês Bernardo de Claraval conciliou a vida religiosa a uma intensa participação política na Igreja Católica. Foi escritor, conselheiro de papas, fundador de mosteiros e pregador da segunda cruzada no século 12.

São Bernardo de Claraval é uma inspiração para o monge Orani João Tempesta, 62, arcebispo do Rio encarregado de receber o papa Francisco em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude.

"Claraval viveu a vida religiosa intensamente e, ao mesmo tempo, tinha uma preocupação com a sociedade e a igreja de sua época", disse à Folha dom Orani, que, assim como o santo de sua devoção, é monge da Ordem Cisterciense.

Na Igreja Católica do século 21, a influência do arcebispo do Rio se consolidou por sua interferência em rádios, jornais e emissoras de TV.

Além de responsável pela organização do encontro mundial de jovens católicos, dom Orani acumula funções estratégicas associadas ao plano de comunicação de massa da igreja no Brasil.

Ele é o presidente da Redevida de Televisão (emissora de TV católica), do conselho de comunicação do Congresso Nacional e do Instituto Brasileiro de Marketing Católico (IBMC). Participa ainda da comissão de comunicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

O especialista em comunicação expressa sua opiniões sempre com muita cautela. Evita usar frases categóricas a respeito de temas polêmicos. Questionado sobre o distanciamento entre a igreja e uma parcela da sociedade, como os gays, afirmou: "Respeitamos o que cada um pensa, mas acreditamos que existe outro tipo de ser, de pensar. Se alguém não concordar, está no seu direito."

Sobre a possibilidade de um casal gay adotar um filho, disse: "A criança não pode optar. Então, devemos passar aquilo que faz parte da tradição humana."

Em sua trajetória religiosa, dom Orani sempre buscou a aproximação do evangelho com as mídias de grande alcance. Quando assumiu sua primeira paróquia, intermediou a compra de uma rádio.

Já bispo, reestruturou a Fundação Nazaré, grupo de comunicação católico com sede em Belém (PR). Soma-se ao perfil de gestor a experiência como apresentador de rádio e televisão. "Não é um exímio comunicador, mas é esforçado", brincou o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, amigo dos tempos de São José do Rio Pardo, cidade natal de dom Orani (280 km de São Paulo).

"Orani entende o valor da comunicação na igreja. Por isso, passou a ser reconhecido como especialista no assunto, além de bom administrador," avaliou dom Dadeus.

A estreia como locutor custou US$ 150 mil aos cofres da igreja, em 1991, valor pago pela rádio Difusora Casabranca, próximo a São José do Rio Pardo. Para viabilizar a compra, a arquidiocese da região vendeu uma fazenda, que havia sido doada à igreja.

Alçado a bispo em 1997, Orani virou colaborador da Redevida, emissora de TV aberta fundada dois anos antes. Em 2004, já arcebispo de Belém, assumiu a presidência da Fundação Nazaré.

"Ele imprimiu uma gestão profissional. Estruturou a fundação como uma empresa", diz Mário Jorge Alves, diretor de comunicação da fundação. Em fevereiro passado, assumiu a presidência da Redevida. E, desde 2012, conduz os trabalhos do conselho de comunicação do Congresso Nacional, que reúne representantes de empresas de comunicação e da sociedade.

"Não acredito em Deus, sou materialista, sindicalista e talvez seja o cara mais problemático do conselho. Há discussões em que tenho vontade de bater em alguns colegas", conta José Nascimento Silva, representante dos trabalhadores de rádio e TV.

"Mas dom Orani não interfere na sua fala, espera que todos se manifestem e depois ajuda a criar um consenso", completa o sindicalista.

A teóloga Maria Clara Bingemer identifica duas características opostas no arcebispo: "A vocação dele é monástica, de isolamento, silêncio, na reclusão de um mosteiro. Ao mesmo tempo, ele percebeu a importância de se comunicar e propagar o evangelho com os recursos atuais."

Dom Orani tem seu próprio site, assim como perfis no Twitter e Facebook. No iPhone, baixou os aplicativos WhatsApp, Viber e Voxer para despachar com os padres de sua equipe, já acostumados a receber mensagens de texto a qualquer hora.

Recentemente, postou em uma rede social uma foto ao lado do papa Francisco.

Nela, dom Orani usa a batina de bispo, com adornos e solidéu na cor violeta. Talvez, a paciência habitual dos monges ajude na espera pelos adornos vermelhos que caracterizam um cardeal.

Sua indicação é aguardada desde 2009, quando veio para o Rio, já que a arquidiocese da cidade sempre foi comandada por cardeais.

Será outro capítulo decisivo na sua vida, já registrada em três livros escritos pelo jornalista Carlos Moioli, seu biógrafo. Possivelmente, ele terá outras histórias para contar: "Nem de longe esperava receber a Jornada e o Santo Padre. É o ponto alto na vida de qualquer bispo".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página