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Para ex-presidente, país já não se satisfaz apenas com consumo

Governo adota um modelo 'anti-China', de estímulo ao gasto das famílias sem que haja investimento, diz FHC

Na avaliação do tucano, redes sociais têm papel importante para a mobilização, mas não fomentam debate

DE SÃO PAULO

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso um dos motivos centrais que levaram aos protestos populares das últimas semanas é um fator que ele batizou com o codinome "anti-China".

"Desde o governo Lula estamos vivendo um estilo de crescimento que é o oposto ao dos chineses. Lá fazem poupança e investem. Aqui consome-se sem investir. A rua está dizendo: não basta o consumo, quero mais."

Cardoso chama a atenção para o fato de que no Brasil não há ditadura e opressão, como no chamado mundo árabe, nem desemprego, como na Europa.

"Só dividimos com países como Espanha e Itália a crise de representação política."

Ele acredita que os partidos estão falando sozinhos.

"Não é que falte oposição. Basta assistir a TV Senado. A oposição é violenta o tempo todo. Só que morre ali. Não passa para a sociedade."

O Congresso ficou, segundo ele, ensimesmado, de modo que não há mais partidos que escapem ao roteiro de ser ou governo ou oposição. "Vivemos algo semelhante à República Velha: só há governo e oposição. Não foi a oposição que diminuiu, o espaço público encolheu. A rua, nisso, pode ser que tenha ganho."

A crise partidária seria potencializada por uma estratégia do governo Dilma de "desestímulo dos debates públicos"."A Lei da Reforma do Petróleo não foi discutida por ninguém. A Dilma mudou a Lei da Mineração e ninguém sabe disso."

Segundo o ex-presidente, o único espaço para algum debate é a mídia tradicional, mas, para ele, o governo ataca a mídia por achar que ela está fazendo oposição.

As mídias sociais, na visão dele, não assumiram um papel importante de debate, apesar de terem sido fundamentais para a mobilização das manifestações.

Cardoso diz que nunca olha o Twitter ("Não tenho tempo, isto é uma atividade que vira full time'") e que olha muito raramente o Facebook e alguns blogs.

Concluído o livro "Pensadores Que Inventaram o Brasil", Cardoso se lançou recentemente a um dos seus maiores projetos pessoais.

Durante os anos em que foi presidente, escreveu ou gravou reflexões diárias sobre a experiência. "São mais de 15 mil páginas, que estou começando a organizar, para que seja feita uma edição post-mortem", afirma ele.

Embora não tenha projeto de escrever nenhum novo livro -- no volume recém-lançado ele brinca que pensou em escrever um chamado "Grande Indústria & Favela"--, acompanhará agora a tradução de uma obra que fez em inglês e que sairá no Brasil no final do ano: "The Accidental President of Brazil".

De resto, na semana que vem o ex-presidente deve enfrentar a primeira eleição em muito tempo. Concorrerá a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. "Sempre recusei os convites, mas agora estou longe do poder há tanto tempo, e todo mundo sabe que não quero mais o poder, que resolvi concorrer."


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