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Análise

Francisco propõe um catolicismo místico e crítico do consumismo

SE CRISTO NÃO É NECESSÁRIO, SEM DÚVIDA É MELHOR FICAR COM A ESPIRITUALIDADE FÁCIL DA PÓS-MODERNIDADE

FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO ESPECIAL PARA A FOLHA

Talvez poucos reconheçam, mas duas coisas estão em jogo na primeira viagem internacional do papa Francisco, para a Jornada Mundial da Juventude: o legado de João Paulo 2º e Bento 16; e o sentido da opção pelos pobres e da crítica à sociedade de consumo para o futuro da igreja.

Se tomarmos o "Documento de Aparecida", que leva a marca clara de Bergoglio, apesar de ser um texto dos bispos latino-americanos, e as colocações iniciais de Francisco, concluiremos que o papa vê os temas e o legado dos pontífices anteriores em sintonia com a opção pelos pobres --ainda que deixe clara a necessidade de uma conversão à pobreza no interior das cúpulas da Igreja Católica.

Dos papas anteriores, Francisco incorpora a necessidade de um catolicismo místico, centrado no encontro com Cristo --um dado espiritual que muda a vida do fiel. E particularmente Bento 16 dedicou sua pregação a mostrar que o catolicismo reduzido a doutrina moral ou a organismo político perde seu sentido. Francisco assume integralmente este discurso ao dizer, logo no início de seu pontificado, que a igreja sem Cristo corre o risco de se tornar uma "ONG piedosa".

Este discurso cristocêntrico, que dialoga com a crise de sentido e as angústias do indivíduo na sociedade atual, determina a razão de ser da igreja no século 21.

Afinal, se Cristo não é necessário, sem dúvida é melhor ficar apenas com o compromisso ético e social das pessoas de boa vontade e com a espiritualidade fácil da pós-modernidade.

Em todo o mundo, a militância da maioria dos movimentos católicos jovens compreendeu essa questão. Mas ela ficou distante de grande parte da população, que continuou a ver a pregação do papa como defesa da moral conservadora.

No conclave, os cardeais viram a simplicidade e o compromisso com os pobres de Bergoglio como aquilo que faltava para quebrar esta dificuldade de comunicação que vinha enfrentando. Até aqui sua opção parece ter sido mais que acertada.

Por outro lado, o compromisso de Francisco com os pobres relança a igreja nas questões sociopolíticas dos anos 60 e 70. Uma volta já presente na "Caritas in veritate", de Bento 16. Mas isto não pode significar um retorno nostálgico a um passado que não existe mais, pois a pobreza continua a desafiar a consciência de todos, mas o contexto político mudou muito nestas décadas.


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