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Viúva de Rubens Paiva foi monitorada pela ditadura

Eunice contestou versão do desaparecimento e passou a ser vigiada pelo SNI

Autor de biografia sobre o ex-deputado diz que até 1983 a viúva ainda era alvo de relatórios do serviço de inteligência

FERNANDA ODILLA NATUZA NERY DE BRASÍLIA

Documentos sob a guarda do Ministério da Justiça revelam que a viúva do ex-deputado Rubens Paiva foi monitorada pela ditadura enquanto tentava esclarecer o desaparecimento do marido.

O ex-deputado teve o mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1 e foi levado por agentes da ditadura para prestar depoimento em 20 de janeiro de 1971. Desde então, é considerado desaparecido.

Convencida de que o marido foi assassinado, Eunice Paiva contestou a versão oficial apresentada pelas Forças Armadas de que o ex-deputado fugiu durante uma tentativa de sequestro, quando era levado por militares para reconhecer uma casa no Rio.

Oito anos depois, Eunice ainda lutava para esclarecer o caso e permanecia sob a mira do setor de espionagem do regime, o SNI (Serviço Nacional de Informações).

Em junho de 1979, um mês antes dela assinar um pedido de reabertura do caso no Conselho de Direitos da Pessoa Humana, o SNI fez relatório sobre a participação dela numa palestra em Londrina. Ironicamente, o serviço de "inteligência" errou ao reportar que ela não se mostrou disposta a acionar o governo para apurar responsabilidades sobre o caso.

Com conteúdo idêntico, um outro documento foi remetido em 17 de julho ao Ministério da Justiça, que preside o conselho. Só que Eunice havia protocolado o pedido de desarquivamento no dia 13 de julho.

Os papeis retratam em detalhe a "novela" que se transformou o caso Rubens Paiva nesse conselho, que nunca apurou o desaparecimento e ainda "perdeu" o processo mais de 15 anos depois de aberto.

Em 1971, por pressão admitida publicamente por conselheiros, a investigação foi arquivada. Em 1979, Eunice pediu para que fosse novamente analisado e, sete anos depois, o caso foi desarquivado. Até hoje o desaparecimento nunca foi esclarecido.

Parte da papelada que narra a epopeia da investigação no Ministério da Justiça faz parte dos originais do acervo do ex-conselheiro Benjamin Albagli, que havia pedido o arquivamento do processo de Paiva e depois defendeu uma reanálise do "tenebroso caso".

Os documentos fazem parte de um acervo do Ministério da Justiça de 84 caixas que será remetido ao Arquivo Nacional nas próximas semanas.

Autor da biografia mais recente do ex-deputado, Jason Tércio, confirma que a viúva de Rubens Paiva foi monitorada por anos: o serviço de espionagem a acompanhou em 1980 numa formatura na qual Paiva foi homenageado. Em 1983, informes do SNI mostram que ela ainda era acompanhada.


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