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Isolados e no escuro

Após vizinhos desistirem de esperar pelo Luz para Todos, família vive afastada em comunidade no Amazonas

DE MANAUS

Patriarca da família, Fernando Mendes Pereira, 55, preside a associação local de moradores e dá nome à estrade acesso à comunidade Nossa Senhora Aparecida, a 60 quilômetros do centro da capital do Amazonas. Na casa dele, onde vivem nove pessoas, não há luz elétrica.

Para se chegar até lá, é preciso percorrer 45 km pela AM-10, rodovia que liga Manaus ao município de Itacoatiara, viagem em pista simples e sem sinalização.

Depois disso, mais 5 km em estrada de terra até o ramal do Fernando, nome do acesso tortuoso e de grandes ladeiras que tem cerca de 2 km e é intransponível para carros comuns na chuva.

Ao pé da ladeira, uma kombi abandonada indica que o caminho é difícil --a construção de madeira onde Fernando vive com a família está erguida ao final do ramal.

Outras cinco casas próximas estão abandonadas. Os poucos vizinhos, conta ele, desistiram de viver na mata e sem energia.

"As crianças sofrem muito. Fica difícil estudar à noite. Mas o problema maior é a alimentação", afirma Fernando, que vive de bicos, sobretudo de pedreiro.

A trilha na mata ele diz que abriu sozinho. Deixou a área urbana de Manaus, onde vivia na periferia, instalou-se no terreno próprio há dois anos e meio, fundou a comunidade e, desde então, espera pela rede de eletricidade.

Fernando usa diariamente duas horas de gerador a gasolina, que lhe tomam R$ 240 por mês, além de outros R$ 60 para o gelo que ajuda a conservar os alimentos.

A água que se bebe geralmente é da chuva. Em períodos secos, ele usa mais gasolina para acionar a bomba que puxa água do igarapé.

As águas rasas próximas não dão peixe, que precisa ser pescado ou comprado longe e conservado em sal.

À noite, sem luz, o gerador é ligado para o "Jornal Nacional" e depois para a novela (das sete, exibida em horário diferente no Estado). Apagado o gerador, lampiões e lanternas ajudam nas tarefas.

Dos cinco filhos que vivem lá, os três mais velhos desistiram de estudar. A distância explica a evasão: da comunidade até a escola são 30 quilômetros.

"Quando chove não tem como sair. Passo meses aqui sem ir à cidade. A ladeira não é fácil", diz Rosilda da Silva, 42, mulher de Fernando, enquanto amamenta a caçula. "Quando [a filha] menorzinha nasceu, resolvemos sair de Manaus por causa da violência. A gente tinha esse terreno, e tinha esse Luz para Todos, que logo ia chegar luz. Por que não chegou pra gente?", questiona ela.

Fernando mostra mapas da comunidade, com nomes de pessoas que moraram por lá e, segundo ele, querem voltar. Rosilda afirma que já deu prazo ao marido. "Se não chegar luz até o fim do próximo ano, voltamos para Manaus."

A casa da família está incluída no cronograma do Luz para Todos a ser cumprido até 2014. Segundo a coordenação do programa no Estado, os caminhões não conseguem chegar até lá, e a rede de luz será instalada quando ramais de acesso forem reformados.


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