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Condenado no mensalão faz política preso

Valdemar Costa Neto recebeu deputado e líder do PR por duas vezes em restaurante onde trabalha durante o dia

Outros presos também burlaram Justiça do DF e foram vistos com a família, na igreja e em rede de fast-food

MATHEUS LEITÃO SÉRGIO LIMA MARIANA HAUBERT DE BRASÍLIA

Condenados no mensalão autorizados a sair da cadeia para trabalhar foram vistos, nas últimas semanas, burlando normas da Justiça do Distrito Federal para fazer contatos políticos, ir à Igreja, encontrar familiares e passar no "drive-thru" do McDonald's.

Por três semanas, a Folha acompanhou a rotina de presos que deixam pela manhã o CPP (Centro de Progressão Penitenciária) para trabalhar e voltam à noite.

Estão nessa situação o ex-deputado e ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto, o ex-tesoureiro do partido Jacinto Lamas e o ex-deputado Bispo Rodrigues.

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também foi autorizado a trabalhar, mas suas atividades estavam temporariamente suspensas à época em que a reportagem observou a rotina dos presos.

Empregado como gerente administrativo de um restaurante industrial, Valdemar recebeu o líder do PR, Bernardo Santana (MG), e o deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) no local de trabalho.

A Folha apurou que o líder do PR se reuniu com Valdemar, condenado a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, para discutir, entre outros assuntos, como o partido iria se posicionar diante do "blocão", grupo de deputados aliados que se rebelava contra o governo. À época, o PR também negociava seu espaço na reforma ministerial.

Em um único dia, além dos dois deputados, outras dez pessoas estiveram no local e saíram ou abraçadas pelo próprio Valdemar ou acompanhadas pelo motorista que o busca no presídio.

Um dia antes, Valdemar foi a uma consulta médica num centro comercial para a qual tinha autorização da chefia do presídio. Ao deixar o local, no final da tarde, o carro em que estava entrou no "drive-thru" do McDonald's, distante cerca de 19 quilômetros de seu local de trabalho.

Jacinto Lamas, que cumpre pena de 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro, saiu às 6h30 da cadeia nos dias 10 e 11 de março e parou na paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, na região central de Brasília, antes de chegar ao trabalho às 8h.

Também nos dois dias, Lamas fez caminhadas em frente ao centro comercial onde fica o escritório da empresa. No dia 11, ele se encontrou com a mulher Romi Poffo no estacionamento do local.

De acordo com as normas do Tribunal de Justiça do DF, o trabalho para presos em regime semiaberto deve ocorrer exclusivamente dentro da empresa, "sob fiscalização direta do empregador ou responsável indicado" e "excepcionalmente o sentenciado poderá se deslocar do local de trabalho até cem metros, durante o horário de almoço, para fazer suas refeições".

O diretor do CPP, Carlos Henrique Gomes Lima, afirmou que a lei não permite os flagrantes feitos pela reportagem. "A autorização é para ir trabalhar e voltar. Qualquer outra movimentação precisa de autorização", disse.

A solicitação para atividades excepcionais ou até para desvio do percurso da cadeia ao local de trabalho precisa ser feita à direção do presídio ou diretamente à VEP (Vara de Execuções Penais), o que não havia ocorrido à época.

Bispo Rodrigues deixou o presídio, nos dias em que a Folha o acompanhou, e se dirigiu para uma rádio ligada à Igreja Universal. Ele foi condenado a 6 anos e 3 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.


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