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Crise ucraniana beneficia novo caça da FAB
Tensão recente entre Ucrânia e Rússia levou o governo sueco a encomendar dez novas unidades do Gripen NG
Ganho de escala na produção do caça pode ampliar os planos de instalação de uma linha de montagem no Brasil
A crise entre Rússia e Ucrânia gerou um efeito colateral envolvendo a Saab, fabricante sueca do Gripen NG, caça escolhido pelo governo brasileiro para ser o padrão da frota da Força Aérea Brasileira no fim do ano passado.
Na quarta-feira passada, o governo sueco anunciou que iria comprar mais 10 unidades do modelo, elevando a carteira de encomendas para 70 aviões para a nova versão derivada do NG.
Também revelou que irá investir para o desenvolvimento de um míssil com capacidade de atingir alvos dentro do território russo. Ao todo, o incremento no orçamento de defesa deve ficar em 10%.
"No futuro, a habilidade de combater alvos a distância mais longa pode ser importante", disse a ministra da Defesa Karin Enstroen à rádio pública sueca.
Esta é uma referência clara ao temor decorrente da anexação da Crimeia pela Rússia e das ameaças do Kremlin de estender suas operações militares em território ucraniano.
Historicamente, a Suécia sempre se preocupou com o vizinho gigante, separado de seu território apenas pela Finlândia. Nos tempos da Guerra Fria, o medo de uma invasão soviética e o desejo de neutralidade fizeram o país desenvolver uma Força Aérea respeitável e com indústria própria a servi-la.
As ações russas assustaram os países europeus mais próximos de suas fronteiras. No caso da Suécia, o fato de não fazer parte da Otan (aliança militar ocidental) e, consequentemente, não ter proteção compulsória dada pelos EUA, faz a questão ser ainda mais sensível.
Em relação ao Brasil, há duas implicações na notícia. Primeiro, o ganho de escala na produção do caça, ainda que por ora seja pequeno, sempre levanta dúvidas sobre as capacidades de produção da Saab --ao mesmo tempo, pode ampliar os planos de instalação de uma linha de montagem no Brasil, que encomendou 36 Gripens ao preço de US$ 4,5 bilhões.
Mais importante, há a possibilidade de uma integração da indústria nacional a um projeto do míssil de longo alcance. Avibrás e Mectron são as principais empresas do ramo no Brasil, e o país já tem uma parceria com outro país usuário do Gripen, a África do Sul, no desenvolvimento desse tipo de armamento.
TECNOLOGIA
A compra dos novos caças foi um processo que se arrastou desde 2001, quando foi lançado o primeiro processo de aquisição dos aviões.
O Gripen derrotou o francês Dassault Rafale, favorito durante os anos de Luiz Inácio Lula da Silva, e o americano Boeing F/A-18, que havia se tornado o predileto no começo da gestão Dilma Rousseff.
Mas o episódio da espionagem norte-americana à presidente e aos movimentos da Petrobras enterrou as chances dos americanos.
Os Gripen serão progressivamente montados no Brasil, provavelmente a partir do sexto avião, e ganharão também de forma gradual componentes feitos no país.
Haverá três contratos para sua compra. Um sobre a aquisição em si e dos armamentos, outro sobre a logística para cinco anos de serviços pelos suecos e um final sobre a transferência de tecnologias sensíveis ao Brasil.
O avião será integrado em instalações da Embraer, que concentrará o processo de absorção de novas tecnologias. A Saab já anunciou que também abrirá uma fábrica no país, em São Bernardo do Campo, provavelmente para fabricar partes da fuselagem do caça.