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Doleiro preso tinha contato com cúpulas de três empreiteiras

Youssef trocava mensagens com dirigentes da Camargo Corrêa, OAS e UTC/Constran; empresas negam suborno

Doleiro intermediava encontros de executivos das construtoras com o deputado federal Luiz Argôlo, do SDD

MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

Os policiais da Operação Lava Jato que analisam as conversas e mensagens interceptadas imaginavam que teriam um grande trabalho para descobrir quem seria "Leitoso", personagem citado pelo doleiro Alberto Youssef junto com altos valores.

Estavam errados. Bastou juntar duas ou três referências e o enigma foi desvendado: a Polícia Federal associou o apelido a Eduardo Leite, vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, um dos focos da investigação da PF. A ligação era tão primária que virou piada entre os policiais.

O vice-presidente da Camargo Corrêa não está sozinho na preferência do doleiro pelo alto escalão. A PF achou troca de mensagens de Youssef com o presidente da UTC/Constran, Ricardo Pessoa, e com o diretor financeiro da OAS, Mateus Coutinho.

O doleiro foi preso em meados de março sob a acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões, com ramificações em partidos como PT, PMDB e PP.

A Camargo Corrêa é um dos focos principais da investigação porque participa de um consórcio que constrói a refinaria Abreu e Lima, o CNCC, que repassou R$ 29,2 milhões a empresas do doleiro. A OAS, sozinha ou em consórcio, pagou R$ 3,9 milhões a Youssef.

Como as empresas do doleiro eram "fantasmas", a PF interpreta que os pagamentos eram propina a políticos --o que as empreiteiras negam (leia texto ao lado).

A se fiar na veracidade das mensagens de Youssef, o vice-presidente da Camargo Corrêa era o mais próximo do doleiro. Numa mensagem interceptada, ele chama Leite de "amigo" e reclama que adiantou dinheiro para a empreiteira e não foi pago.

"Tô com um pepinão aqui na Camargo que você nem imagina. Cara me deve 12 paus [R$ 12 milhões ou US$ 12 milhões], não paga. Pior que diretor é amigo, vice-presidente é amigo", disse.

No caso da OAS, o doleiro apresentou o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) ao diretor financeiro da empresa, segundo a PF. Após reunião com o executivo, Argôlo escreve ao doleiro: "Foi do caralho, uma relação duradoura e séria". Youssef replica: "Gosta muito de mim. Me respeita como profissional".

O diretor da OAS também teria pago parte de uma comissão de R$ 400 mil que Youssef repassou ao deputado. "Falei com Mateus. Vai liberar semana que vem. Uma parte dos 400", escreve Youssef no dia 12 de março, cinco dias antes de ser preso.

Youssef já havia delatado a OAS em 2006, três anos após ter sido preso por operações ilegais com dólares. Contou que remeteu R$ 1,07 milhão da empresa para contas no exterior do ex-prefeito Paulo Maluf --o que ele nega. O dinheiro havia sido desviado da construção da avenida Jornalista Roberto Marinho, na qual a OAS atuou, segundo a delação.

Com o presidente da UTC/Constran, a relação com o doleiro também tem tons de intimidade. Em 31 de dezembro do ano passado, às 23h57, Ricardo Pessoa mandou uma mensagem de feliz ano novo a Youssef.

Dois meses antes, o doleiro intermediara reunião do presidente da UTC/Constran com o deputado. A PF ainda não sabe o que negociavam.


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