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Deputado foi torturado ao som de 'Apesar de Você', diz testemunha

DO RIO

No carro que o levou da 3ª Zona Aérea ao DOI-Codi, no Rio, o ex-deputado Rubens Paiva, já bastante ferido por tortura, ouviu os agentes trocando instruções, por rádio, sobre o que fazer com a mulher dele e seus quatro filhos.

Eles seguiam na casa da família no bairro do Leblon, onde Paiva fora preso.

"Quem está dentro não sai, quem está fora pode entrar, mas entra e é grampeado", diziam agentes que se identificavam como "Elefante", "Aranha" e "Tigre".

A informação consta de um depoimento escrito pela professora Cecília Viveiros de Castro, que esteve presa nas mesmas instalações que Rubens Paiva. Cecília, então com 48 anos, foi detida ao voltar de uma visita ao filho, Luiz Rodolfo, exilado no Chile.

Com ela estava Marilene Corona Franco, cunhada de seu filho. As duas traziam cartas de outros exilados para suas famílias.

No prédio da Aeronáutica, elas ouviram gritos de um preso que estava sendo interrogado. "Era a primeira vez que constatava a existência dos horrores da tortura, tão negados pelo governo", diz.

No texto, escrito poucos dias depois de ser solta e entregue agora ao Ministério Público Federal por seu filho, Luiz Rodolfo, Cecília conta que, ao ser transferida para o DOI-Codi, um homem foi colocado a seu lado.

"Reconheci, espantada, ser o dr. Rubens Paiva, pai de três meninas minhas alunas no Colégio Sion e companheiras de minha filha. Era ele que tinha apanhado."

Em outro depoimento anexado pelo Ministério Público à denúncia, Marilene Franco disse ter ouvido os gritos de Rubens Paiva, que era torturado em um salão ao lado de onde ela estava. Para abafar os gritos, um rádio foi ligado em alto volume. Tocava "Jesus Cristo", de Roberto Carlos, e "Apesar de Você", de Chico Buarque.


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