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Foco

Copa do Povo desliga a TV, e sem-teto veem estreia do Brasil em botecos da vizinhança

MORRIS KACHANI DE SÃO PAULO

Não houve Copa na invasão Copa do Povo. Ou melhor, não houve Copa do Mundo.

O que aconteceu horas antes no acampamento de sem-teto foi um campeonato de "seleções" que homenageavam categorias que fizeram mobilizações recentes pelo país: metroviários, garis, rodoviários, estudantes, professores e operários do estádio.

Quando a bola começou a rolar a apenas 3 km da ocupação, no Itaquerão, a única televisão no local estava desligada, por decisão da liderança do movimento.

Cerca de mil famílias ocupam o terreno --4,8 mil estão cadastradas, no total.

"Se a gente montasse um palco, iam achar que a gente se rendeu à Copa', e não foi bem isso", afirmou Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).

"Fizemos um acordo com o governo no qual nos comprometemos em não inviabilizar o evento esportivo", explicou.

Boulos, que foi recebido pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff (PT), se referia à negociação na qual o governo federal garantiu a construção de 2.000 casas no terreno ocupado pelo MTST há um mês. O desfecho foi considerado uma vitória.

"Se o Brasil ganhar ou perder, o que muda? Nossa luta não é contra outros países", disse Bruno Rodrigues da Silva, 24, perueiro.

Quando a Croácia abriu o placar, um alto-falante reproduzia músicas do rapper Sabotage, morto em 2003. Umas poucas mulheres dançavam, e as crianças batiam bola.

À exceção de algumas cozinhas comunitárias e o pátio central do acampamento, não há energia elétrica na ocupação (apenas dois chuveiros elétricos funcionam). Por isso, quem quis assistir ao Brasil x Croácia foi a botecos ou mesmo à entrada do estádio, onde havia um telão.

De fato, o acampamento estava esvaziado durante a partida. Para o camelô Moisés da Silva Oliveira, 38, a hora do jogo é "um momento sagrado em que você esquece religião e política, um momento 100% brasileiro".

"Todo mundo ama futebol e pelada", acrescentou o tapeceiro Maikel Wagner, 22. "Menos os mentes fechadas', mas estes são minoria no acampamento", acrescentou.

APITO

Pela manhã, ao som de um funk cujo refrão dizia "Família inconformada com aumento de aluguel/ Morar em favela isso é cruel/ Pai de família nem sabe o que faz/Se paga aluguel ou se dá de comer/ Não temos nada contra a Copa do Mundo/ Mas viver no Brasil sem moradia é um absurdo", teve início o campeonato da Copa do Povo.

"O Brasil não está satisfeito com o mando da Fifa e a exclusão dos trabalhadores da periferia", anunciou Josué Augusto do Amaral Rocha, 25, graduado em medicina pela Unicamp e coordenador-geral do acampamento do MTST.

Em seguida, ele pediu para que se ateasse fogo em um boneco feito de espuma ornado com figurinhas adesivas do álbum de jogadores da Copa.

Josué apresentava cada uma das seleções destacando as conquistas das categorias, aos gritos de "Fora Fifa". Duas seleções de mulheres e uma de "ronaldetes" --com homens usando vestimentas femininas, também jogaram.

Boulos entrou em campo na seleção dos coordenadores e mostrou ser melhor em política. A final do campeonato da Copa do Povo será no dia da oficial, no Maracanã.


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