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A Copa como ela é

Moradores 3, ativistas 1

Enquanto visitantes anti-Copa se dividem entre ignorar partida e torcer pela Croácia, favela vibra com primeira vitória da seleção

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

A Copa dos "anti-Copa" na favela do Moinho, na região central de São Paulo, reuniu ativistas torcendo para a Croácia e moradores vibrando com o Neymar.

"Isto aqui não é uma festa, é um evento político que questiona o futebol elitista, realizado em uma comunidade de resistência, a última favela do centro", anunciava a arquiteta Larissa Viana, 30, do Comitê Popular da Copa.

O grupo, formado em sua maioria por pessoas de fora da favela, montou vários jogos temáticos em volta do centro comunitário do local.

No "Cala Boca Galvão", a meta era acertar a bolinha na boca do locutor Galvão Bueno; no "Tiro ao alvo nas empreiteiras da Copa", o objetivo era acertar na Odebrecht, Camargo Correa e Andrade Gutierrez; e o Tomba Fifa era um jogo de boliche com as figuras de Joseph Blatter, presidente da Fifa, José Maria Marin, chefe da CBF, e outros.

"Desses daí, só conheço o Ronaldo e a Fifa", dizia Renato dos Santos Silva, 12, enquanto mirava no Marin.

O ponto alto era o "Desce o cacete no Ronaldo", em que as crianças malharam o Judas com um boneco representando o ex-jogador. "Ele é que disse tem que baixar o cacete nos vândalos dos protestos'", explicava uma ativista.

"Vocês estão dando camisa do Brasil?", perguntava a moradora Sandra F.. "Onde é que vocês estão dando camiseta do Brasil?", repetia.

GALVÃO E CERVEJA

A ideia inicial era ignorar completamente o jogo Brasil x Croácia, mas os ativistas tiveram que contemporizar.

"Nós entendemos, a galera da comunidade quer ver o jogo. É a contradição que a gente vive", disse a atriz Natalia Siufi, 26.

No andar de cima do centro comunitário, havia telão, cadeiras de plástico, cerveja, churrasquinho e a indefectível narração de Galvão Bueno. Embaixo, forró, projeção de imagens de protestos e ativistas ignorando a partida.

A cada lance da Croácia, os ativistas comemoravam: "Vai Croácia! Vai Dimitri!" Nos gols do Brasil, ficavam impassíveis. Quando invalidaram o gol da Croácia por falta no ataque, ouviu-se um "Juiz ladrão! Copa comprada!".

No gol da Croácia, enquanto os ativistas comemoravam, os moradores xingavam.

"Se o Brasil ganhar, ganha a propaganda nacionalista. Mas eu acho que o Brasil vai ganhar, porque a Copa está comprada; afinal, a reeleição da Dilma está no pé do Neymar", disse Natália.

Danilo Mekari, 25 anos, jornalista, veio com a camisa da Croácia. "Uma derrota do Brasil seria um alerta contra a especulação dos megaeventos", dizia ele, que milita pela legalização das drogas.

No "Hot Dog da Marcia", o que mais saía era o Velho Barreiro e a Pirassununga, a R$ 2 a dose.

O jardineiro Ivanildo da Silva, 56, ia fugir da bagunça e assistir ao jogo em casa. Acaba de comprar uma TV de 42 polegadas (R$ 1.800, em quatro vezes).

É a terceira casa de Ivanildo --as duas primeiras foram destruídas em incêndios. "Eu sou contra os gastos da Copa, mas quero assistir ao jogo na tranquilidade", disse. "Mas gosto dos ativistas, eles sempre vêm aqui."

A presença era eclética: entidades contra chacina, pela libertação da Palestina, Movimento Passe Livre, entre outros. Mas tinha também turista que foi só para socializar.

"Vim aqui com amigos, não sou do movimento; mas não dou entrevista para jornal brasileiro", dizia uma moça vestindo uma calça de lycra com estampa de oncinha e maquiagem pesada.


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