Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Deputado tem empresa com doleiro, diz contadora
Segundo depoimento, Luiz Argôlo é sócio informal de Youssef em empreiteira
Youssef chegou a entregar dinheiro no apartamento de Argôlo, diz PF; deputado não foi localizado no domingo
O deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) é sócio informal de Alberto Youssef na empreiteira Malga Engenharia, segundo informações prestadas à Polícia Federal pela contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro.
Argôlo era o parlamentar mais próximo de Youssef, segundo dados reunidos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. As investigações revelam que o deputado e o doleiro trocaram 1.411 mensagens em seis meses, entre setembro do ano passado e março deste ano --uma média de quase oito por dia.
A Malga e pagamentos são assuntos frequentes nessa troca de mensagens.
Youssef chegou a entregar dinheiro no apartamento que a Câmara dos Deputados cede a Argôlo, de acordo com a PF. O deputado, por sua vez, usou recursos da Câmara para pagar passagem e hotel para encontros com o doleiro.
A Malga é uma das três empresas de Youssef que não eram de fachada (as outras são a Web Hotéis e a rede de agência de viagens Marsans), ainda segundo documentos apreendidos pela PF.
A empreiteira é dona de máquinas e caminhões e chegou a ser subcontratada pela Delta para duplicar uma estrada no Paraná, a BR 163, num contrato de R$ 115 milhões do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes Terrestres).Há suspeitas de que Argôlo tenha conseguido o contrato por meio dos contatos no órgão.
A Delta é suspeita de tantas irregularidades que hoje é proibida de celebrar contratos com o governo federal.
Numa das mensagens trocadas entre Argôlo e Youssef em outubro do ano passado, o parlamentar informa: "A fatura da Malga este mês será de 155". Youssef responde: "Preciso receber na data, por favor". Segundo interpretação da PF, 155 é R$ 155 mil.
O chefe de gabinete de Argôlo na Câmara dos Deputados, Vanilton Bezerra, recebeu R$ 120 mil do doleiro em sua conta pessoal, segundo outra mensagem interceptada pela PF --o que ele nega.
As evidências de que Argôlo e Youssef tinham uma sociedade também são mencionadas pelo juiz federal Sergio Moro, de Curitiba, ao enviar ao Supremo Tribunal Federal indícios de que o parlamentar possa ter cometido crime nas relações com o doleiro.
Segundo o juiz, "há, aparentemente, registro de negócios comuns, envolvendo construtoras e licitações" entre ambos que devem ser alvo de apuração específica.
Como o deputado tem foro privilegiado, só o Supremo pode investigá-lo --o que ainda não foi decidido. Num dos depoimentos que prestou à PF, a contadora Meire Poza fala da sociedade, sem mencionar o nome do deputado.
Ela é apontada pela PF como a principal testemunha da Operação Lava Jato ao relatar como funcionavam os pagamentos de propina intermediados pelo doleiro, com empreiteiras numa das pontas e, na outra, empresas públicas como a Petrobras.
Ela contou à revista "Veja" que o doleiro tinha negócios com Argôlo e fez operações para os deputados federais André Vargas (sem partido-PR) e Candido Vaccarezza (PT-SP) --o que eles negam.
Antes de mudar ao Solidariedade, no fim de 2013, Argôlo era do PP, que patrocinou as primeiras incursões de Youssef na clientela política.
O deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI mista da Petrobras, afirmou ontem que vai pedir a convocação da contadora Meire Poza para apurar suas denúncias.
OUTRO LADO
Procurado no celular e por meio do advogado, Argôlo não foi localizado. Na defesa que exibiu à Comissão de Ética, ele desqualificou as provas.