Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Painel do Eleitor

MARCELO COELHO - coelhofsp@uol.com.br

'Sem Dilma, vira tudo'

Indecisa decide votar em Dilma pelo receio de perder o Bolsa Família caso Marina vença a eleição

A prótese dentária que uma moradora de Paulo Afonso (BA) ganhou de presente antes de gravar a propaganda de Dilma Rousseff, agosto passado, faz falta para Ana Cláudia de Souza Gomes, moradora de Barueri, na Grande São Paulo.

Mãe de três filhos, ela recebe o Bolsa Família (R$ 182) e teve seu nome incluído num programa de qualificação profissional do município. Prepara-se para trabalhar como recepcionista. Estar com os dentes em ordem ajudaria muito, diz Ana Cláudia.

Ela chegou a procurar ajuda no escritório político de um vereador da cidade --toda quinta-feira Zé Baiano (Solidariedade) está disponível para atender a população. Mas não conseguiu o que queria.

Seus filhos Alexsandro, Natália e Rafaella, de 12, 11 e 7 anos, contam com transporte escolar gratuito. Os dois mais velhos estudam em período integral --uma vantagem que Barueri, com a arrecadação do condomínio de luxo de Alphaville, tem em relação a cidades vizinhas.

Ninguém se espanta quando pessoas de outros municípios dão um jeito de provar que têm residência por lá. Em todo caso, Ana Cláudia não é de falar muito.

Quem vai ser entrevistada pela Folha é sua mãe, Teresa, selecionada pelo Datafolha entre os eleitores que se disseram indecisos numa das últimas pesquisas de opinião. Aos 56 anos, Teresa tem cinco filhos, quinze netos e dois bisnetos. Nascida no Pará, foi mãe pela primeira vez com 13 anos de idade, e é costureira desde os 16.

"Sempre gostei de ver esses debates", diz ela enquanto dá espaço para que eu me sente na cama ao lado dela, na tarde da segunda-feira. A pequena televisão de tubo "com muito chuvisco", como ela tinha avisado, transmite o encontro entre candidatos promovido pela Folha, UOL, SBT e Jovem Pan. O aparelho fica no alto, em cima de um gaveteiro. Fora dois ou três banquinhos, não há praticamente outros móveis na casa.

Basta aparecer a imagem de Marina Silva (PSB) para que Teresa não se mostre tão indecisa assim. "Não gosto dessa aí."

Dilma Rousseff (PT) pergunta de onde virão os R$ 140 bilhões que, segundo calcula, irão custar os investimentos sociais prometidos pela rival. "Boa pergunta", comenta Teresa. Enquanto Marina responde criticando o viés "cartesiano" desse tipo de questões, é o marido de Teresa, Mário Romão da Silva, quem toma a palavra.

Se Marina ganhar, afirma o pernambucano de 70 anos, "vira tudo". Vai voltar o tempo do Sarney, do Fernando Henrique, do Collor, prevê. Os dois acham que, se Marina ganhar, acaba o Bolsa Família.

Indecisa? O voto de Teresa, ainda mais depois das firmes intervenções de Mário, é Dilma sem sombra de dúvida. O que a tinha feito vacilar, algum tempo atrás, foi a frase de um médico do INSS.

Teresa estava sendo examinada pelo perito, para que fosse comprovada a necessidade de sua aposentadoria por motivos de saúde. Não faltam motivos, aliás. Ela é diabética, tem arritmia cardíaca, toma antidepressivos e sofre de glaucoma. "Já tenho de trocar os óculos, ficaram fracos de novo." O médico tinha dito que o PT ia fechar o cerco contra fraudes na aposentadoria.

Mas a inquietação com isso passou. O debate prossegue. Aécio aparece. "Nunca parei para ver o que esse fala."

Eduardo Jorge defende a liberação do aborto. Teresa, que é da Igreja Universal, acha que mesmo em caso de gravidez por estupro a "vontade de Deus" deve ser respeitada. Pergunto se é vontade de Deus que uma mulher seja violentada. Ela responde que, pela Bíblia, "nenhuma folha cai da árvore se não for porque Deus quis".

Mário implica com a Universal. "Nunca li na Bíblia que Jesus cobrasse dinheiro para ressuscitar um morto ou curar um leprado". Teresa sorri, sem discutir.

Pergunto se na igreja pedem voto para algum candidato. Ela procura se lembrar de algum nome, possivelmente para deputado estadual ou federal, mas não dá importância a esse tipo de coisa. "O voto é secreto, escolho quem eu quiser." E o fato de Marina ser evangélica não muda sua preferência. Lula, Dilma e o Bolsa Família têm apoio total por lá.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página