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Mesmo com delação, doleiro ficaria quatro anos na cadeia
Para fechar acordo, procuradores também exigem que Youssef entregue seus bens
Imposição decorre do histórico do réu, que prometeu à Justiça deixar o câmbio ilegal ao ser preso em 2004
O doleiro Alberto Youssef terá de cumprir quatro anos de prisão em regime fechado e entregar todos os seus bens ilícitos, se quiser fechar um acordo de delação premiada.
A exigência para que cumpra uma pena mínima de quatro anos de prisão, e outros quatro em regime aberto, é da força-tarefa do Ministério Público Federal que atua na Operação Lava Jato, segundo profissionais envolvidos na investigação ouvidos pela Folha.
Sem o acordo, Youssef, 46, poderia ficar mais de vinte anos no regime fechado.
Os procuradores têm sido rigorosos com o doleiro porque ele descumpriu um acordo de delação que assinou em 2004, quando foi investigado por remessas ilegais que fez usando o Banestado, banco do governo do Paraná.
Youssef se comprometeu a deixar o mercado paralelo de dólares, mas, em vez disso, aumentou ainda mais o volume de seus negócios.
O juiz Sergio Moro, que endossou o acordo de 2004, cancelou o perdão e reabriu as ações penais após a prisão de Youssef. Na quarta-feira (17), ele foi condenado a quatro anos de prisão num desses processos.
Preso há seis meses e com a perspectiva de ser condenado a mais de cem anos de prisão, o doleiro sofre dois tipos de pressão para fechar um acordo: da família e da fila de delatores na Operação Lava Jato. Eles já são quatro, entre eles Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras.
PRESSÃO
A pressão da fila de delatores ocorre porque, quanto mais réus colaborarem com a investigação, menos questões restam a serem esclarecidas pela PF e menores serão os eventuais benefícios que Youssef pode ter.
Delação é um instituto previsto na Lei do Crime Organizado, segundo o qual um réu ganha benefícios em troca de informações que revele.
Dois auxiliares de Youssef já deixaram a prisão após decidirem colaborar com a Justiça nas investigações. São eles: Leonardo Meirelles, laranja do doleiro no laboratório Labogen, e o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, que era representante de Youssef na GFD Investimentos, a principal empresa controlada pelo doleiro.
Youssef discute há dois meses a possibilidade de fazer o acordo porque não vê saída jurídica para o seu caso, já que a PF e os procuradores reuniram considerável número de provas contra ele.
Com a decisão de Costa de tentar a delação premiada, o doleiro sinalizou que pode ter as provas que faltam ao ex-diretor da Petrobras para comprovar o que ele revelou em depoimentos.
O principal problema para a negociação avançar é a baixa credibilidade do doleiro. Em 2004, quando fez uma delação, ele só denunciou políticos do Paraná e preservou os seus maiores clientes.
O advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, diz ser contra a delação por causa da falta de seriedade com que o instituto é tratado no país, mas que a decisão será do seu cliente. Para Basto, o doleiro aceitaria a delação se o prazo do regime fechado caísse para três anos, mas ele deixaria a defesa.
"Colaboração é tiro no pé. Eu não vou deixar meu cliente participar do circo de horrores a que o Paulo Roberto foi exposto", afirma, referindo-se à ida do ex-diretor à CPI da Petrobras. A lei proíbe a exposição de quem faz delação premiada, segundo ele.
O advogado impetrou dois recursos no Superior Tribunal de Justiça, nos quais busca afastar o juiz do caso por considerá-lo parcial e anular o cancelamento da delação premiada de 2004 porque a defesa não foi ouvida.