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Na TV, Dilma erra dados econômicos e é contestada
Presidente se equivocou sobre inflação nos EUA e crescimento da Alemanha
Petista afirmou que está adotando uma estratégia 'defensiva' em razão da crise na economia internacional
Em entrevista concedida ao jornal "Bom Dia, Brasil", da TV Globo, a presidente e candidata Dilma Rousseff utilizou dados e informações incorretos e foi contestada pelos jornalistas.
No programa, transmitido nesta segunda (22) e gravado no dia anterior, o embate mais agudo se deu quando a petista foi questionada sobre a piora da inflação em seu governo e seus ataques à proposta de um Banco Central independente, da adversária Marina Silva (PSB).
Em suas respostas, Dilma disse que o banco central americano, independente, enfrenta ameaça de deflação --inflação abaixo de zero, um sintoma de recessão.
Conforme apontou a jornalista Miriam Leitão, espera-se uma inflação em torno de 2% neste ano nos EUA.
A presidente e a entrevistadora também divergiram quando Miriam afirmou que a Alemanha, a despeito da crise europeia, deverá crescer 1,5% neste ano, acima do 0,3% esperado no Brasil. Dilma disse que a Alemanha está crescendo 0,8%. Essa, no entanto, foi a taxa de expansão no segundo trimestre.
A presidente também se equivocou ao dizer que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita pelo IBGE, não apura taxa de desemprego.
Com metodologia diferente da pesquisa mensal de emprego, também do IBGE, a Pnad calculou desemprego de 7,1% em todo o país no primeiro trimestre do ano, enquanto a pesquisa tradicional, limitada às seis principais regiões metropolitanas, apurou taxa de 4,9% em abril.
Dilma disse ainda, sobre o desemprego, que "ninguém tem no mundo taxa de 4,9%". Vários países têm taxas semelhantes ou inferiores, casos de China, Japão, Rússia, Coreia do Sul, Áustria, Suíça, Tailândia e outros.
Em defesa de sua política econômica, a petista disse estar adotando uma estratégia "defensiva", em razão da crise internacional.
Por esse raciocínio, o aumento dos gastos públicos --e, em consequência, a maior tolerância com a inflação-- buscou preservar o mercado de trabalho. A recuperação da economia, disse, dependerá dos EUA.
"Apostamos em uma retomada [econômica], em que vamos mudar [a política] de defensiva para ofensiva", disse a presidente, que admitiu insatisfação com o crescimento brasileiro.
MUDANÇA DE AMBIENTE
Dilma defendeu as críticas que vem fazendo às propostas de Marina. "Tudo o que eu falo está no programa da candidata. Ela diz que vai tornar o Banco Central independente. Ora, isso é colocar um quarto poder no país."
A entrevista foi gravada no Palácio da Alvorada, mas em local que não identificava a residência oficial.
A biblioteca do palácio, onde Dilma gravava a maioria das entrevistas da campanha, foi abandonada depois que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, José Dias Toffoli, criticou o uso do local.
No domingo, Dilma havia ironizado a declaração dada à revista "Época" por Toffoli, para quem o uso da biblioteca por Dilma é uma "vantagem indevida". "Eu só quero lembrar que todos meus antecessores usaram o palácio, até porque caso contrário eu serei uma sem-teto, não terei onde dar entrevista", disse a petista.
O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, defendeu o uso do Palácio da Alvorada pela petista e disse que presidente da República não vai dar entrevista "em shopping".