Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Tréplica

Números não comprovam que os leitores leram o conteúdo

Dizer que o tempo de leitura é mais do que o triplo do usual é multiplicar uma incógnita

VERA GUIMARÃES MARTINS OMBUDSMAN

Qualquer opinião está sujeita a alguma contestação, e a da ombudsman não seria exceção. Não tenho compromisso com o erro nem cultivo ideias fixas, que não possam ser mudadas com uma boa argumentação. Mas não é este o caso. Os números apresentados na réplica contam só metade da história. Nenhum desmente o ponto central da coluna de domingo passado, calcada na percepção de que o tempo cada vez mais curto condena as reportagens multimídias muito grandes a serem abandonadas antes do fim.

Minha conclusão é empírica, baseada na troca de ideias com colegas de Redação, amigos, leitores potenciais em geral. A opinião de outros é fundamental para embasar uma crítica como essa, que, de outra forma, poderia ser puramente subjetiva e submetida a idiossincrasias da ocupante do cargo.

Ouvi elogios unânimes e ressalvas, idem: nenhum dos inquiridos havia conseguido ler tudo até o final. Não admira: além de textos longos, o "Tudo Sobre/Crise da Água" tem 13 vídeos, 52 fotos, 10 animações, 14 ilustrações e 14 gráficos. O leitor vai levar ao menos duas horas, contadas no relógio, para conhecer seu conteúdo integral.

Marcelo Leite e Roberto Dias apresentam dados de audiência do site para provar que minha percepção está equivocada. Informam que 132 mil visitantes únicos entraram na página. Fico feliz, mas isso não quer dizer que eles tenham lido integralmente o material --e esse era o meu ponto. Nenhuma das ferramentas citadas faz essa quantificação.

Dizer que o tempo médio de leitura é mais do que o triplo do usual numa página do site é multiplicar uma incógnita, já que os autores não informam qual é o tempo usual. A priori, parece pouco provável que, mesmo multiplicado por três, seja suficiente para ler tudo. Uma página se lê em poucos minutos.

Ainda assim, a métrica do visitante único é bem menos sujeita a distorções do que o número de páginas vistas, que beirou os 3 milhões em 11 dias. O problema é que essa métrica é uma caixa-preta.

Fui informada de que a Folha computa um "page view" a cada abertura da página em si ou a cada clique do leitor para acionar conteúdo novo em foto ou arte. É uma resposta evasiva: quantos cliques gera todo o especial, considerando a quantidade de texto, artes e fotos? Quantos páginas vistas soma o leitor que só vai rolando a tela, apreciando belas imagens e artes?

Os autores afirmam que é difícil acreditar que publicar separadamente as reportagens signifique mais audiência. Não defendi a divisão em nome da audiência, mas da premissa de que um conteúdo fracionado --e ainda assim relevante-- tornaria mais factível a leitura integral de três temas independentes. Clique não é o meu problema.

O texto diz que a ombudsman errou e que a introdução do especial explica que o material está dividido em capítulos que podem ser lidos em qualquer ordem. Sugiro que o próprio leitor tente achar essa explicação na introdução.

Para finalizar, foi espantoso descobrir que uma reportagem com todos os recursos descritos acima tem mais audiência do que a página digital da ombudsman, que se resume a um texto --e um clique. Sem dúvida, é argumento demolidor, que desqualifica as ponderações que apresentei na coluna.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página