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Análise
Êxito da CPI esbarra no instinto de autoproteção dos partidos
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHAQuando o PT era o líder da oposição, os partidos eram até capazes de se unir para pedir o impeachment de um presidente da República, como ocorreu com Fernando Collor, em 1992.
Hoje, a CPI do Cachoeira é um exemplo estridente de que os partidos se preocupam mais com a autoproteção, o que dificulta a possibilidade de resultados concretos.
O principal alvo acabou sendo o próprio bicheiro-empresário Carlinhos Cachoeira. Mas, para isso, não era preciso CPI, bastava a investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. Ele, inclusive, já estava preso quando a CPI começou.
Começou, aliás, porque o ex-presidente Lula achou que estava aí a melhor chance de dividir atenções e neutralizar as acusações contra o PT no julgamento do mensalão.
No cálculo manifestado por Lula a aliados, a CPI iria atirar no que viu -o esquemão Cachoeira- e acertar no que não viu, a oposição. Estavam na mira o então senador Demóstenes Torres, arauto da moralidade no DEM, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB.
Não foi bem assim, e a CPI atingiu também o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT, a empreiteira Delta, maior contratante do governo federal, lançando também estilhaços contra o governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB.
Cabral não era apenas uma estrela em ascensão no PMDB, mas também importante aliado de Lula e da presidente Dilma Rousseff. Não era conveniente mexer com com ele nem com a Delta.
No mundo político, portanto, interessava a poucos que a CPI fosse um sucesso.
O destino de Cachoeira já estava traçado, o de Demóstenes foi definido rapidamente. E não se fala mais nisso.
O fim melancólico da CPI ficou evidente quando o PT pressionou sem sucesso o relator, o petista Odair Cunha, a apresentar seu parecer -duro contra Perillo- bem no meio do segundo turno das eleições municipais.
O jogo de interesses envolvendo PT, PSDB, PMDB e Planalto produziu um movimento de forças que se anulou.
