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Pragmático, Renan prepara a volta 5 anos após renúncia

Senador é favorito para assumir pela terceira vez a presidência da Casa

De personalidade fria, ele já acolheu inimigos e sobreviveu a suspeitas que motivaram saída do cargo no fim de 2007

NATUZA NERY DE BRASÍLIA

Ele pede cargo para os outros e ganha crédito; indica colegas para relatorias e comissões no Congresso e ganha crédito; dá cargos à oposição e ganha crédito. Renan Calheiros (PMDB-AL) não coleciona inimigos, acumula devedores. Seu apelido oculto: "O Despachante do Senado".

Não por acaso, é o favorito para assumir, pela terceira vez, o comando da Casa no mês que vem.

Se não houver surpresas, voltará ao posto ao qual renunciou em 4 de dezembro de 2007 para salvar a pele.

Após ser acusado de ter despesas pessoais pagas por lobista de uma construtora, foram na época quase sete meses de suspeitas, cinco representações no Conselho de Ética, duas delas derrubadas em plenário por meio do voto secreto. Poucos resistiram a tamanho bombardeio.

Ele mesmo conta um feito sobre aquele ano: 200 dias de matérias negativas na mídia.

Fora do comando do Senado, mas com o mandato intacto e renovado após votação recorde nas eleições de 2010, mergulhou naquilo que melhor opera, os bastidores.

Nesses cinco anos, ficou praticamente submerso, sem jamais perder influência. Concedeu favores, negociou cargos para terceiros no governo e alçou colegas de diversas matizes partidárias a postos relevantes na Casa.

Fortaleceu-se ainda mais ao articular a eleição de José Sarney (PMDB-AP) à presidência da instituição, em 2009, e ao salvá-lo da renúncia no mesmo ano, no auge do escândalo dos "atos secretos".

"Sarney teve um Renan para operar por ele; Renan, não", afirmou o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), pontuando o destino desigual dos dois colegas de legenda.

SEM VINGANÇA

Egresso do movimento estudantil na década de 70, Renan tem personalidade fria, a ponto de acolher inimigos.

O ex-senador Demóstenes Torres virou exemplo disso. Em 2007, pedira impiedosamente a cabeça de Renan Calheiros. Em 2012, quando ele próprio caiu em desgraça no caso Cachoeira, estava lá o peemedebista a oferecer-lhe o ombro e rodadas de vinho para exorcizar a "má sorte"e a inevitável cassação.

"O Parlamento não é um palco para vingança. Nunca me vinguei de ninguém porque essa não é a minha cabeça, é o oposto", disse Renan, em rápida (e rara) entrevista.

Não que ele não estoque ressentimentos. Apenas procura relevá-los em nome da política e de seus dividendos.

O senso de oportunidade é outro traço típico. Quando soube que Dilma Rousseff queria fazer de Eduardo Braga (PMDB-AM) o novo líder do governo, se apressou em "adotar" o potencial rival.

Era parte da estratégia para neutralizar uma candidatura rival dentro do partido. Contemplou outros colegas da chamada ala independente do PMDB: colocou Waldemir Moka (MS) na 2ª vice-presidência da Casa; entregou a relatoria do Código Florestal a Luiz Henrique (PMDB-SC) e a Comissão de Constituição e Justiça a Eunício Oliveira.

Na CPI do Cachoeira, ajudou PT e PSDB a salvar seus governadores -Agnelo Queiroz (DF) e Marconi Perillo (GO), respectivamente, acabaram não sendo indiciados.

"Ecumênico", foi sob sua gestão no comando do Senado o período em que a oposição ganhou mais voz com cargos na hierarquia.

Colhendo os créditos gerados nesses anos, Renan faz campanha sem assumir sua própria candidatura.

Os íntimos dizem que ele busca votos com ao menos uma premissa perigosa, confidenciada raríssimas vezes: "A presidente Dilma Rousseff não gosta de mim".


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