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Alguém mentiu
Enquete da Folha sobre eleição para presidência do Senado mostra placar diferente do resultado da votação secreta
Senador de primeiro mandato, o mato-grossense Pedro Taques (PDT) foi escolhido por apenas 18 colegas na votação secreta em que perdeu a presidência do Senado para Renan Calheiros (PMDB-AL) na sexta-feira.
Em publico, porém, seu rol de admiradores parece ser um pouco maior.
Em enquete realizada pela Folha, 24 senadores asseguraram ter votado em Taques.
Ou seja, a menos que tenham cometido um lapso coletivo em uma simples votação, pelo menos seis senadores mentiram.
Na semana passada, Taques recebeu formalmente o apoio dos partidos de oposição, o que lhe garantiria quase 30 votos na teoria. Como a votação foi secreta, alguns senadores não cumpriram a promessa.
A diferença não teria sido suficiente para tirar a vitória de Renan, mas a enquete sugere que o novo presidente do Senado, denunciado por três crimes pela Procuradoria-Geral da República, se beneficiou do voto secreto.
A Folha ouviu entre segunda-feira e ontem 73 dos 78 senadores que votaram na sexta. Renan teve menos votos na enquete que na votação real: apenas 35 senadores admitiram ter votado nele.
Outros 14 optaram por não declarar o voto e 5 não foram localizados. A enquete excluiu os três senadores que faltaram à sessão: Humberto Costa (PT-PE), Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) e João Ribeiro (PR-TO).
Em comum, os senadores que abriram o voto em favor de Renan dizem que cumpriram a tradição do Senado de escolher o candidato filiado ao maior partido da Casa.
"Meu voto foi de respeito à regra constitucional e regimental que define a proporcionalidade partidária, bem como a orientação do PT", justificou Eduardo Suplicy (PT-SP), que escreveu uma carta aos seus eleitores para explicar o apoio a Renan.
"O Taques acha que eu votei nele, o Renan também. O voto é secreto", disse o senador Sérgio Petecão (PSD-AC), que não quis revelar o voto.
Ao saber que teve mais apoio na enquete do que no dia da votação, Taques criticou a postura dos colegas, mas disse não estar chateado. "Quem deu a palavra não cumpriu. Quem tem que ficar magoado é quem não seguiu sua consciência."
Na bancada do PSDB, que tinha fechado o voto em Taques, o senador Ruben Figueiró (MS) admite que votou em Renan. Ele assumiu o mandato como suplente na semana passada e disse que havia se prometido ao titular da cadeira que votaria em Renan.
Os outros tucanos dizem ter votado em Taques. No DEM, que tem 4 senadores, 2 declararam o voto em Taques.
O PT havia fechado posição em favor de Renan, que teve o apoio do Palácio do Planalto. Entretanto, 2 senadores da bancada não quiseram revelar o voto e 2 não foram encontrados pela reportagem.