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Análise
Apesar do inegável avanço, boa parte dos beneficiados corre risco de voltar à miséria
GUSTAVO PATU DE BRASÍLIA"A tentação de superar a pobreza de maneira 'estatística' já se instalou na atual administração."
O texto, de agosto passado, foi escrito pelo analista chileno Ernesto Aguila, no jornal "La Tercera", a respeito do governo do centro-direitista Sebastián Piñera.
Como Dilma Rousseff, Piñera promete erradicar a extrema pobreza até 2014. Como a petista, criou no ano passado um programa focado nesse estrato social -o Brasil Carinhoso de lá se chama Ingreso Ético Familiar.
Nos dois casos, o governo paga às famílias valores suficientes para a superação da linha da miséria. A diferença é que a linha chilena é algo como o dobro da brasileira.
"Trata-se simplesmente de conseguir que, no dia e no mês da aplicação de uma pesquisa, a maior quantidade de pessoas se encontre, ainda que ligeiramente, acima da linha de extrema pobreza", como escreveu Aguila.
Com a reputação de produzir as estatísticas mais sólidas do continente, o Chile foi acusado, em outro episódio, de manipular dados divulgados em 2012 sobre a pobreza.
Os casos mostram que a indiscutível melhora dos indicadores sociais em praticamente toda a América Latina se tornou trunfo eleitoral.
Estudos concluem que os governos têm, sim, méritos no processo, ao elevar os gastos direcionados à população mais carente. A politização do tema, porém, leva tanto ao exagero do peso dos programas sociais quanto ao superfaturamento dos resultados.
A maior parte do progresso social acelerado a partir da década passada, segundo os estudos, está relacionada à expansão do ensino e a transformações no mercado de trabalho, feitos creditados a múltiplas administrações.
E, como apontou o Banco Mundial, a ascensão ainda é precária: 38% dos brasileiros e latino-americanos foram classificados como "vulneráveis", ou seja, sob risco considerável de voltar à pobreza.
O mesmo raciocínio vale para boa parte dos milhões de ex-miseráveis das estatísticas mais recentes.