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Ribeirão

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Rituais fúnebres do século 19 ainda resistem em comunidades da região

Toque de sinos e contemplação coletiva em torno de um morto persistem em cidades menores

Em algumas delas, cortejo faz comerciantes fecharem suas lojas; em outros, morador anuncia a morte pelas ruas

DANIELA SANTOS DE RIBEIRÃO PRETO

Os sinos da igreja tocam e o morador escalado para anunciar o fato pelas ruas é chamado. Quase todos -às vezes, todos- os moradores se mobilizam e até o comércio fecha suas portas.

Em pleno século 21, ao menos 20 cidades da região de Ribeirão Preto ainda mantêm rituais fúnebres que eram mais comuns no século 19. Alguns seguem à risca a prática como 200 anos atrás.

É o caso de Barretos, cidade conhecida pela tradicional festa do peão de boiadeiro que ainda usa o ritual do toque dos sinos para avisar que alguém morreu.

Para o filósofo e estudioso do assunto Amir Abdala, a badalada dos sinos anunciando uma morte e contemplação coletiva em torno do velório de pessoas comuns são marcas do século 19 que só sobrevivem em cidades menores ou de médio porte, como é o caso de Barretos.

Segundo ele, o ritmo das cidades grandes não permite que a morte se manifeste através desses ritos funerários. "A sociedade desenvolveu uma rejeição muito radical da ideia de morte e não suspende mais o cotidiano para se dedicar à tradição."

A contemplação de quase toda a cidade na última homenagem ao morto ainda ocorre hoje em lugares como Aramina, Buritizal, Cássia dos Coqueiros e Ipuã.

PUBLICISTA DA MORTE

As tradições sofrem, no entanto, adaptações. Em Altinópolis, o publicista da morte -aquele anuncia os velórios- é o anunciante de eventos Givanildo Gomes Ferreira, 36, que comunica pelo carro de som quem morreu.

O trabalho começou a ser feito há quase dez anos, quando ele estreou para anunciar a morte de Bassano Vaccarini (1914-2002), escultor italiano que adotou o município e a região. Não parou mais. "Quando passo anunciando, as pessoas param e escutam quem morreu."

Além do anúncio em carro de som, os alto-falantes das igrejas também são usados em alguns casos.

Apesar da internet, em Bebedouro, outra prática do passado persiste: cartazes com o nome do morto, horários do velório e do enterro são colocados em locais públicos. Só que lá são as funerárias que adotam a prática.

Suas placas são postas em portas de estabelecimentos comerciais do centro da cidade. "É um serviço essencial. Todo mundo para e lê", diz o aposentado Luiz Roberto dos Santos.

Também em respeito aos mortos os comerciantes das cidades de Colômbia, Cravinhos, Dumont, Cândido Rodrigues e Fernando Prestes fecham as portas dos estabelecimentos comerciais quando o cortejo passa.


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