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Ribeirão

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Senhor das artes

Diretor do MAC até 2014, Tadeu Chiarelli chega aos 50 anos de elo com as artes, iniciado em escola de Ribeirão e na obra de Monteiro Lobato

DE RIBEIRÃO PRETO

Tadeu chega e solta uma risada gostosa, aberta. Ele sempre ri assim. De calça jeans preta, camisa de manga curta e óculos de design italiano, tem um ar moderno, mas absolutamente discreto. A reportagem propõe fazer as fotos antes da entrevista, por causa do sol que logo cairá.

Ele sugere irmos à catedral de Ribeirão Preto. Gosta da igreja matriz "porque ela está dentro de um neogótico austero, bem elaborado".

A conversa chega aos afrescos de Benedito Calixto pintados na igreja em 1917, e que ele acha "lindos".

Se Tadeu Chiarelli, 57, acha linda uma obra de arte, é bom levar em conta. Estudante sempre de colégios públicos, formou-se doutor em história da arte na USP, onde dá aulas (na Escola de Comunicações e Artes, a ECA), é um dos maiores curadores e críticos de arte do país e, há três anos, também diretor do MAC (Museu de Arte Contemporânea).

Tornou-se em 2010 responsável por um dos mais importantes museus do país, com acervo de 10 mil obras. Seu mandato vai até 2014.

Mas, antes de chegar lá, foi diretor de outro importante museu, o MAM (Museu de Arte Moderna). É respeitadíssimo por Milú Vilela, 63, presidente do museu e do Instituto Itaú Cultural. Trabalharam juntos de 1996 a 2000.

"Sua carreira como historiador de arte e seu profundo conhecimento das artes brasileiras me estimularam a tê-lo conosco", afirma Milú.

No MAM, ele fez exposições que marcaram o museu.

Agora, no MAC, transfere aos poucos as obras para a nova sede, em frente ao parque Ibirapuera. No dia 31, abre as exposições "Volpi", com 22 obras do artista, e "Classicismo, Realismo, Vanguarda -- Pintura Italiana Entreguerras", com 80 obras.

Em dezembro, o museu deve estar totalmente ocupado, com 3.000 obras.

Professor de história da arte, Rodrigo Naves, 57, autor de três livros e um dos maiores críticos do país, é incisivo: "Talvez ele tenha sido o diretor mais importante do MAM nas últimas décadas".

FORMAÇÃO NA INFÂNCIA

Chiarelli tem formação sólida. Filho de pais modestos, começou a viver a arte ainda criança. Alfabetizou-se sozinho e "desenhava, desenhava em todo canto, sem parar".

Também lia muito, inclusive livros de arte que sua irmã mais velha, Ophelia Chiarelli Minelli, 73, lhe dava.

Ela trabalhava na Escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto, uma referência na cidade. "Tadeu começou a frequentá-la quando tinha sete anos", diz Ophelia.

Havia aulas à noite, para adultos, que Chiarelli também frequentou graças a outra irmã que trabalhava na escola nesse período, Marlene Chiarelli Mauro, 71.

Foi fazer faculdade em São Paulo, na USP. Um ano depois, começou a se interessar pela crítica de arte.

LOBATO NA VEIA

Na sua infância de leitor voraz, o primeiro autor de quem leu a obra completa foi Monteiro Lobato. E uma das artistas que mais interessavam Lobato na época era Anita Malfati. "Eu não conseguia entender como tinha se dado a ruptura entre dois seres que eu respeitava tanto."

Ele diz que a discórdia se deu porque Lobato era crítico de arte e tinha um projeto na área para o Brasil, de cunho nacionalista, que se chocava com o de Anita. "Então fui estudar toda a crítica de arte do Lobato até 1922."

No estudo, acabou chamando sua atenção um elemento internacional teórico, do início do século 20, chamado Retorno à Ordem, "que seria um período de refluxo das vanguardas históricas", diz.

O grande idealizador desse período no Brasil é Mario de Andrade, diz Chiarelli. "Aí foquei a crítica de arte do Mario, para mostrar como o modernismo está mais ligado no Retorno que às vanguardas."

O mestrado sobre Monteiro Lobato e o doutorado sobre Mario de Andrade resultaram em dois livros.

Está no Retorno à Ordem a única crítica que Rodrigo Naves faz ao trabalho de Chiarelli. "Tendo a concordar que o Mario tem um nacionalismo um pouco conservador, mas acho que Tadeu exagera a influência do movimento na nossa arte moderna."

Chiarelli diz que seu envolvimento com a obra se dá "pela emoção". Thiago Honório e Rômulo Vieira estão entre os jovens de que gosta.

Para sua formação, considera importantes Ana Maria Tavares, Paulo Pasta e Rosângela Rennó. Acha Cildo Meireles "o máximo" e gosta muito de Nelson Leirner. Dos eternos, adora Tintoretto.

É casado com Silvia de Macedo Chiarelli há 33 anos e segue apaixonado. Ela tem uma escola em Pinheiros, São Paulo. Uma das filhas, Luanna, faz pedagogia e trabalha lá. A outra, Stella, fará 25 e cursa arqueologia em Istambul.

Amigo de juventude, Vagner Velloni, 58, artista plástico e professor universitário, diz acreditar que Chiarelli vai dirigir museus do exterior e que ele dirigirá a Bienal.

O que Chiarelli acha disso? Nem pisca --e responde com uma frase interiorana: "Nem que a vaca tussa!". E lá vem a gargalhada gostosa.


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