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Ônibus ultrapassa dobro da velocidade máxima em via
Quatro de seis viagens feitas pela Folha constataram excessos de velocidade
Presidente de sindicato diz que motoristas sofrem 'pressão'; para Transerp, problema de velocidade é pontual
Flagrantes de ônibus do transporte público de Ribeirão Preto mostram que a velocidade chega a ultrapassar o dobro do limite permitido em via pública.
Em duas semanas, a reportagem da Folha fez seis viagens de ônibus e registrou excesso de velocidade em quatro delas com auxílio de um aplicativo de celular.
A situação mais grave foi registrada no acesso da avenida Nove de Julho à avenida Maurilio Biagi. A via indica velocidade de 20 km/h, mas o ônibus estava a 47 km/h. A pista local é estreita e tem uma curva brusca ao final.
O diretor de transportes da Transerp (Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto), José Mauro Araújo, afirma que o problema de excesso de velocidade é pontual e que age quando problemas são identificados.
Já o presidente do Seturp (Sindicato dos Empregados do Transporte Urbano de Ribeirão Preto), João Henrique Bueno, diz que os motoristas excedem os limites de velocidade porque há pressão sobre os profissionais.
"Há uma pressão das empresas [sobre os motoristas], que por sua vez é pressionada pela Transerp para o cumprimento dos horários", diz.
O consórcio Pró-Urbano, responsável pelo serviço de transporte coletivo em Ribeirão, não se manifestou sobre o assunto, apesar dos questionamentos feitos pela Folha à assessoria da empresa.
EXCESSO
Na linha City Ribeirão, na manhã da quarta-feira (23), o motorista do ônibus cometeu ao menos sete infrações por excesso de velocidade em cerca de 50 minutos.
Por volta das 9h12, o veículo atingiu uma velocidade de 59 km/h na rua Maestro Edmundo Russomano, onde o limite é 40 km/h, de acordo com as placas de trânsito.
Cinco minutos depois, o motorista atingiu 51 km/h num trecho da avenida Portugal, onde os carros podem chegar no máximo a 30 km/h.
No dia 16, as infrações foram verificadas na linha do Jardim Paulo Gomes, de manhã (sentido centro) e à noite (sentido bairro). Por volta das 9h10, o ônibus atingiu 48 km/h na rua Jorge Lobato (limite de 30 km/h).
À noite, por volta das 22h10, o motorista chegou a 59 km/h na rua Padre Anchieta, onde o limite é 40 km/h.
Doutor em engenharia de transportes, Antônio Nélson Rodrigues da Silva, professor da Escola de Engenharia da USP São Carlos, diz que o problema de alta velocidade dos ônibus existe porque não se prioriza o transporte público.
"É necessário que haja faixas exclusivas para os ônibus, a exemplo do que ocorreu em São Paulo. Se o trânsito fica travado num trecho, o motorista precisa correr para compensar essa perda de tempo lá na frente, o que é um risco para todos."
Segundo Bueno, o sindicato tem orientado os motoristas a seguirem as normas de trânsito. Ele contou que já comunicou por ofício o Pró-Urbano e a Transerp para readequação dos horários de linhas, para dar maior tempo e mais tranquilidade para os motoristas trafegarem.
O diretor da Transerp diz que todos os 368 ônibus do consórcio são monitorados pela prefeitura e que busca soluções para melhorar o tráfego dos veículos do transporte coletivo para diminuir o tempo perdido no trânsito.
Segundo Araújo, ele recebe poucas reclamações sobre excesso de velocidade. Neste ano foram 12.
Sobre a denúncia do sindicato, de pressão sobre os motoristas, o diretor afirmou que mudará os horários das linhas se a Transerp entender que há necessidade.
