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Sem procura, laranja apodrece na região
Produtores afirmam que baixo preço oferecido pela indústria inviabiliza colheita em pomares no interior de SP
Para entidade das indústrias, estoque de suco apresentará queda neste ano e em 2015, beneficiando produtor
O baixo preço oferecido pelas indústrias de suco de laranja tem feito com que citricultores do interior de São Paulo deixem a fruta apodrecer nos pomares.
Eles afirmam receber propostas de R$ 8 por caixa de 40,8 quilos da fruta, muito abaixo do custo de produção, estimado em R$ 18.
A situação faz com que a safra tenha atraso na região de Ribeirão Preto e no Triângulo Mineiro, segundo especialistas e produtores. A colheita deve cair até 20%.
Colhedores também saem perdendo, porque ficam sem emprego na região, que comporta pelo menos 20 mil vagas na área.
Em Taquaritinga, o produtor rural Lindolfo Rodrigues Santos Filho, 61, disse que vai diminuir o pomar de laranja para plantar cana-de-açúcar, porque não quer mais ter prejuízo com o setor.
"É o terceiro ano consecutivo com problemas na safra. Eu tenho ainda plantação de café e cana. Só laranja seria prejuízo", disse.
A seca dos últimos meses também contribuiu para a perda da safra do produtor. O pomar foi plantado em 2010 e, sem a colheita, laranjas estão espalhadas pelo chão.
Pés de laranja considerados bons devem começar a perder forças em até duas semanas, de acordo com ele. "A situação vem piorando há anos", afirmou.
O colhedor Ademir Hernandes, 55, disse buscar todos os dias respostas para a demora no começo da safra. Ele é uma das 20 mil pessoas que trabalham na área rural e dependem financeiramente do começo da colheita.
Para não ficar parado, conseguiu um emprego temporário na colheita de café. Os salários no campo para o colhedor podem chegar a R$ 400 por 15 dias trabalhados.
Em Bebedouro, o presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, disse que pelo menos 2.000 produtores mudaram de ramo para evitar perdas. No dia 1º, a Folha revelou que a safra de laranja caiu 21% desde 2004.
"A indústria tem capacidade de nos tornar produtores ineficientes. O produtor não consegue vender a safra."
OUTRO LADO
O diretor-executivo da CitrusBr (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), Ibiapaba Netto, disse que o produtor pode esperar uma melhora na safra em 2015. Isso porque o mercado vem de duas grandes safras.
Na temporada 2011/12, por exemplo, a safra da indústria foi de 428 milhões de caixas, o que deve cair para aproximadamente 300 milhões até junho do próximo ano.
A CitrusBr foi fundada em 2009 pelas empresas Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus.
Com o aumento da safra, o estoque chegou a 765,9 mil toneladas de suco em 2013. A expectativa é que haja queda para 517 mil toneladas em 2014 e 350 mil no ano que vem, o que beneficiaria os produtores.
