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Ribeirão

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Minha História Benedita Bueno Sahadi, 107

Vi a cidade nascer

(...) Uma das mais antigas moradoras da região, dona Tita chegou a Brodowski antes da fundação e viu surgir Candido Portinari

EDSON SILVA CAMILA TURTELLI ENVIADOS ESPECIAIS A BRODOWSKI

RESUMO Natural de Altinópolis, Benedita Bueno Sahadi, 107, a dona Tita, se mudou para Brodowski em 1911, dois anos antes da fundação da cidade onde conheceu seu marido, José (1903-73).

Viu o lugar de três ruas no início do século 20 virar uma cidade de 21 mil habitantes e o início da carreira do habitante mais ilustre, Candido Portinari. Diz que seu marido era melhor artista que Candinho, do qual era amigo.

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Nasci na cidade de Altinópolis, que naquela época se chamava Matogrosso de Batatais, em uma fazenda de café chamada Monjolinho.

Meu pai era índio e minha mãe tinha origem italiana. O meu pai era o administrador do lugar. Quando eu tinha somente quatro anos de idade, nossa família veio para Brodowski, que nem existia ainda como cidade.

A cidade, naquela época, era somente o lugar onde nós morávamos, a Vila Cristal.

Ela tinha três ruas: a do meio, a de cima, a outra e fim. Era somente isso.

Brodowski foi distrito da cidade de Batatais por 19 anos. Virou município em 1913.

É verdade que Brodowski mudou muito de lá para cá. A cidade nasceu do zero e então foram abertas ruas largas, o que fez ela ficar mais bonita, mais organizada e melhor desenhada.

Aqui, eu cheguei a trabalhar por três anos como tesoureira da prefeitura, substituindo o meu irmão, que foi ser vereador.

Foi aqui também que eu conheci o meu marido, o José Sahadi. Tinha 23 anos na época e o nosso encontro foi na saída do cemitério. Logo que ele me viu, já avisou os amigos que ia se casar comigo. Ele era meio "entrão".

Nós nos casamos três anos depois disso. Coincidentemente, na minha vida tudo acontece em trio. Eu nasci no dia 3 de março, tive três filhas, três netas e três bisnetos. Todos lindos.

Desde jovens, eu e meu marido tínhamos amizade com o Candinho [o artista plástico Candido Portinari (1903-62), filho ilustre da cidade]. Meu marido era pintor amador e eles costumavam pintar juntos.

O Candinho fazia muita coisa rústica. Eu não gostava dos quadros que ele fazia. Já os do meu marido eram quadros mais bonitos. José era um artista.

AJUDANTE, NÃO

Quando o Candinho foi fazer carreira e viajou para o Rio de Janeiro como ajudante, meu marido não foi. Ele era meio metido e não quis ir desse jeito.

Eu não imaginava que Candinho ia ficar famoso como ficou. Mas ele foi, estudou, se dedicou e fez a sua carreira. Meu marido abandonou a veia artística e foi trabalhar em cartório.

José era fanático por futebol. Ele adorava as Copas do Mundo e também torcia para o São Paulo Futebol Clube. Eu não ligava muito para futebol, mas acabava acompanhando os jogos com ele.

Quando teve a outra Copa do Mundo no Brasil [disputada em 1950], aqui em Brodowski foi uma festa, foi a alegria do povo.

Nessa época, nós gostávamos também de viajar. Antes, eu e meu marido íamos daqui para São Paulo de trem.

Depois que ele morreu, em 1973, e com o fim das linhas de trem [a Companhia Mogiana, que é responsável pelo desenvolvimento da cidade em suas primeiras décadas, extinguiu gradativamente os trens de passageiros], passei a viajar com as minhas filhas para Santos, Águas de Lindoia e outros lugares.

ITINERANTE

Nos últimos anos, passei a ficar entre São Paulo, onde moram as minhas filhas, e Brodowski.

Estava vindo aqui somente para passear, até que eu sofri um mal-estar durante uma visita que fiz no ano passado e resolvi ficar de vez porque gosto daqui.

Apesar deste episódio, a minha saúde está ótima.

Na verdade nunca pensei em chegar nessa idade, 107 anos. O segredo acho que é amar o próximo. Eu gosto de todo mundo e sou bastante querida.


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