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Casas de pôquer avançam para o interior
Reportagem encontra 16 clubes espalhados por três Estados, incluindo Ribeirão Preto e Bebedouro, na região
Jogo ganha categoria de esporte, com realização de torneios, mas ainda provoca discussões sobre sua legalidade
De três anos para cá, casas de pôquer e grandes grupos que praticam o Texas Hold'em -uma das modalidades do jogo- têm se espalhado pelo interior do país.
Antes restritas às capitais, essas casas recebem hoje o jogo que passou a fazer parte até do calendário do Ministério do Esporte.
A Folha encontrou 16 clubes de Texas Hold'em nos Estados de Minas Gerais -Uberlândia-, Paraná -Londrina- e São Paulo -Ribeirão Preto.
Em algumas dessas casas, inclusive, são realizados campeonatos da confederação da categoria. Seus frequentadores afirmam que a expansão do pôquer se deve ao esforço de torná-lo um jogo da mente e não um jogo de azar.
"Antes éramos assombrados com a lei de contravenção penal, que nos incluía nos jogos de azar. Hoje, não", afirmou o diretor executivo da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold'em), Alberoni Castro.
A última etapa do Campeonato Brasileiro de Pôquer, em dezembro passado, reuniu 1.612 jogadores, de acordo com Castro.
Nas casas, seus personagens acabam se tornando assíduos frequentadores. É o caso do advogado aposentado José Luiz Oliveira Mattos, 80, que reserva pelo menos dois dias da semana para isso.
LEGALIDADE
Apesar de seus frequentadores garantirem a legalidade do pôquer, a questão não é unânime. De acordo com o delegado e professor de crimes eletrônicos da Academia da Polícia Civil de São Paulo, Mariano Araújo Filho, não há "clareza ou uma legislação específica sobre a prática e legalidade do pôquer".
Para ele, a falta de um órgão fiscalizador abre margem à exploração de práticas ilícitas, que acontece na internet.
Segundo Araújo e o advogado especialista em direito desportivo Eduardo Carlezzo, o artigo 50 da lei de contravenção penal 3.688 de 1941 é antigo e diz que "estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele, resulta em punições".
Segundo a CBTH, laudos do Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança Pública consideraram o pôquer, em casos de clubes fechados, jogos da mente.
O advogado criminal e professor de processo penal da USP (Universidade de São Paulo) Maurício Zanoide de Moraes relativiza a definição. "Qualquer esporte pode ter fraude. Nenhum é imune."
Ele discorda, porém, que o jogo seja questão de sorte. "É um exercício da mente, com cálculos matemáticos e habilidade emocional."