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Saúde + Ciência

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Em busca de ossos

Brasileiro ainda tem resistência a doar ossos, segundo médicos; pessoas com lesões, problemas odontológicos e tumores ósseos podem precisar do transplante

DIANA BRITO DO RIO

Foram dois anos de espera até que a estudante de medicina Vanessa Vianna de Oliveira, 30, recebesse parte do fêmur de um doador anônimo para substituir o seu, lesionado por um tumor ósseo, quanto tinha 15 anos.

Com o risco de perder a perna, a jovem ouviu do médico que a esperança seria o transplante de osso. "A demora incomodava muito por me limitar em várias coisas como colocar o pé no chão", lembra a universitária, que teve um osteosarcoma, câncer que atinge principalmente adolescentes.

O mesmo aconteceu com a carioca Mariana Flores da Costa, 18, que recebeu um fêmur inteiro. "Eu podia escolher a prótese, mas seria uma solução temporária. O transplante de osso é para o resto da vida", afirma.

Mas médicos ligados ao único banco público de tecidos musculoesqueléticos do Brasil, no Into (Instituto Nacional de Traumaortopedia), no Rio, dizem que a população brasileira ainda resiste a doar ossos.

Entre os motivos estão a falta de conhecimento sobre essa possibilidade e a percepção de que a retirada do osso possa mutilar o cadáver do parente. Por isso, pacientes esperam meses e até anos.

"Isso é uma questão cultural. As pessoas preferem ser cremadas em vez de doar os ossos", disse o chefe do Centro de Oncologia Ortopédica do Into, Walter Meohas.

O número de transplantes de ossos tem crescido no país na última década. Em 2012, foram feitos mais de 23 mil transplantes, sendo que 94% deles foram para uso odontológico e 6% para tratamento de problemas ortopédicos.

Para o médico Rafael Prinz, chefe banco de ossos do Into, a doação de tecido ósseo ainda é baixa no país.

"Estou com meu estoque praticamente zerado. Existe uma resistência à doação dos ossos. Em torno de 50% de 208 famílias entrevistadas no último ano no Rio dizem que não doam ossos. Isso por desconhecimento da existência dessa possibilidade ou dos benefícios que isso traz aos pacientes."

Em 2013, o Into fez 14 captações, uma média de duas por mês. "A gente poderia fazer captações diárias, tem equipe para isso", diz Prinz.

O médico afirma que após a retirada do osso a equipe de captação faz a reconstrução anatômica do corpo do doador para entregá-lo de volta aos familiares.

A aposentada Nilza Candelária da Cruz, 63, em abril de 2011, doou os ossos da neta Karine Lorrany, 14, vítima do massacre de Realengo (zona norte do Rio), onde 12 estudantes foram mortos por um atirador em 2011.

"Disseram no hospital que os ossos dela ajudaram 42 pessoas. Eu fico feliz por isso, queria ajudar."

Em média, o Into recebe 30 solicitações para transplantes por mês. No total, 163 pessoas receberam transplantes e enxertos no primeiro semestre deste ano.

As principais indicações são tumores, falhas ósseas em cirurgia de revisão de prótese no quadril e joelho, além de implantes dentários.

Meohas diz que o transplante ósseo é mais indicado aos jovens com problemas ortopédicos por ser uma solução definitiva. "Já a prótese precisa ser trocada, em média a cada cinco anos."

Hoje, só é possível doar ossos nos Estados onde há bancos de tecido musculoesquelético registrados (como Rio, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul).


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