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Tempo 'maluco' nada prova sobre o aquecimento global

Fenômenos locais são erradamente tomados como evidência de mudança do clima --ou ausência dela-- causada pela humanidade

MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

A cidade de São Paulo vive o início de janeiro mais quente da década. Metade dos EUA sucumbe a uma onda de frio paralisante. Na Austrália, de 50 mil a 100 mil morcegos caem das árvores, mortos de calor, em Queensland. Ressacas e chuvas torrenciais castigam o Reino Unido.

Os exemplos de tempo ensandecido se multiplicam neste começo de 2014. Nenhum estudioso responsável do clima, contudo, se arriscará a afirmar um nexo causal entre cada um desses eventos e o aquecimento global.

São todos, afinal, fenômenos locais. E a mudança climática decorrente do acúmulo na atmosfera de gases do efeito estufa, como o CO2 do escapamento dos carros, é mundial. Só pode ser corroborada por tendências estatisticamente relevantes, de escala planetária.

Embora seja inequívoco (porque observado e medido) um aumento de temperatura média global de 0,8°C desde 1880, não há ainda observações suficientes para estabelecer que o número de eventos climáticos extremos --como ondas de calor e de frio-- esteja aumentando como resultado do aquecimento.

Quem não é pesquisador não precisa cultivar tais escrúpulos. Nos EUA, conservadores como o radialista Rush Limbaugh não perdem a oportunidade, a cada onda de frio, de usar o flagelo como "prova" de que o aquecimento global não existiria.

No Senado dos EUA, James Inhofe, republicano de Oklahoma, disse que o tempo gélido torna "risível" a ciência da mudança do clima.

Eles têm um aliado poderoso no senso comum. Se faz frio, não pode estar ocorrendo um aquecimento global, certo? Simples assim.

Nada é simples, em matéria de clima. Não se exclui que a própria onda de frio nos EUA resulte do aquecimento de 2°C --observado e medido-- do Ártico. Por trás estaria uma mudança na trajetória de ventos de altitude ("jet stream") que serve de barreira para frentes frias polares.

De resto, não se conhece a opinião de Limbaugh e Inhofe sobre o inferno paulistano, as ressacas britânicas ou os morcegos australianos.


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