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Entre médicos e pinturas

Obras de artistas como Alfredo Volpi e Anita Malfatti passam despercebidas em hospital municipal da zona norte de SP

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

No fundo do corredor, um cavalo de balanço pintado por Alfredo Volpi (1896-1988). Um pouco mais à frente, um coreto de Francisco Rebolo (1902-1980). Na sala ao lado, Anita Malfatti (1889-1964) retrata crianças brincando.

Obras de artistas renomados convivem com a caótica rotina de um hospital público superlotado na zona norte de São Paulo.

Aberto como leprosário há 110 anos, o Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, no Jaçanã, reúne painéis e pinturas que ficaram anos escondidas sob a tinta das paredes da ala da pediatria.

Há ainda obras de Aldo Bonadei (1906-1974) e um mural de pastilhas do romeno Samson Flexor (1907-1971). Duas pinturas são atribuídas à Tarsila do Amaral (1886-1973), mas não estão assinadas.

Administrado pela Santa Casa de São Paulo, o hospital foi referência no tratamento de tuberculose entre as décadas de 1930 e 1950.

Nesse período, recebeu a visita de pintores do grupo Santa Helena, que se reunia num edifício com o mesmo nome na praça da Sé, demolido para dar lugar ao metrô.

Segundo Maria Nazarete de Barros Andrade, coordenadora do museu da Santa Casa, o então diretor do hospital, Jairo de Almeida Ramos, pagou aos artistas uma ajuda de custo pelas obras.

"Volpi foi único que ficou internado no hospital para se tratar de tuberculose", diz.

A médica Mariana Frukaw, residente em pediatria, afirma que as obras são fontes de inspiração na rotina estressante do hospital. "Olhar para elas e imaginar como foram feitas modifica o nosso dia a dia, dá mais cor."

Mas, sem nenhuma placa de identificação, as pinturas passam despercebidas pelos pacientes e acompanhantes.

Sentadas em um banco abaixo do painel que retrata o Jaçanã, de Aldo Bonadei, nove mães não fazem ideia de quem seja o autor da obra.

"É bonito, mas nunca prestei atenção no que é. A gente está sempre tão cansada que não vê a hora de ser atendida e ir embora", diz Roseli Andreazzi, que esperava atendimento para a filha Rebeca, 2, com febre e vômito.

No corredor externo, com vista para o painel de Flexor, Raimunda Araújo, 55, também ignora a autoria da obra, mesmo frequentando o hospital há 25 anos.

"Pena que a gente não saiba dessas coisas boas. Só vejo uma multidão para ser atendida e um prédio muito velho", diz ela. Febril, desistiu de esperar atendimento no pronto-socorro. "Falaram que a espera é de oito horas."

O diretor administrativo do hospital, Reberson Pierro, confirma a precariedade. Diz que o tempo de espera no PS adulto é de até seis horas.

"Somos o único hospital da região de porta aberta [não exige que o paciente seja encaminhado por uma unidade de saúde]."

Os problemas não acabam aí. O centenário hospital precisa de reforma, pintura e novos equipamentos.

A falta de segurança também preocupa. Os fundos do terreno não têm proteção. "Até torneira já levaram daqui", diz o diretor.

Ah! E a identificação das obras de arte? "Estamos terminando o levantamento histórico para colocar plaquinhas em todas elas", afirma.


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