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Saúde + Ciência

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MINHA HISTÓRIA - PATRICIA RODRIGUES FREITAS, 41

315 dias na UTI

A bebê Sophia nasceu com só 590 g e passou dez meses e meio internada; seus pais publicaram na internet um vídeo sobre ela para dar apoio a quem passar por isso

(...) Depoimento a

Isadora Brant/Folhapress
Patricia Rodrigues Freitas, 41, com sua filha, Sophia
Patricia Rodrigues Freitas, 41, com sua filha, Sophia
MARIANA VERSOLATO DE SÃO PAULO

RESUMO Sophia tem 11 meses de idade e passou dez deles na UTI neonatal. Prematura extrema, ela nasceu após 27 semanas de gestação, com 590 g. Nesse período, passou por quatro cirurgias. Após a alta hospitalar, seus pais, Marcos Freitas, 43, e Patricia Rodrigues Freitas, 41, divulgaram um vídeo mostrando sua evolução.

Eu já estava tentando engravidar há um tempo. Fiz duas fertilizações in vitro, depois engravidei naturalmente e perdi com dois meses, e aí engravidei da Sophia.

Quando estava com cinco meses, fui à clínica do meu médico apesar de a minha consulta estar marcada só para a semana seguinte. Acho que Deus estava na nossa vida desde o início.

Uma médica viu que a Sophia estava com restrição de crescimento. Disseram que iam me internar. Uma semana depois, o médico disse que preferia cuidar dela fora da barriga. Entrei em desespero. Meu marido foi para o hospital. À noite, fui para o parto.

Ela nasceu com 27 semanas e 590 g. Já levaram e entubaram. Depois de duas horas o Marcos, meu marido, foi visitá-la na UTI neonatal.

[O pai, Marcos Freitas, 43, intervém: "Achei que ela não ia vingar, que não ia sobreviver (emociona-se). Não era um 'bebê Johnson' que todo mundo espera. Você vê que tinha que estar na barriga da mãe. Subi para falar com a Patricia e ela perguntou como a Sophia era. Disse que era nossa filha, e era linda.]

No primeiro momento, pensei que ela ia ficar bem. O medo veio depois. Ela era um papelzinho, pele e osso. Pequena, com um tubo na boca que era quase maior que ela.

O pior foi quando tive alta, porque todo mundo vai embora com seus bebês, tira foto, faz festa. E a gente não.

Mas saí pela manhã, voltei à tarde e ali começou nossa nova vida de hospital. Eu chegava às 10h e ficava até as 21h. Foi assim nos dez meses e meio que a gente ficou lá.

No hospital, a gente cria uma nova família, deixa a nossa própria família de lado. Almoçava com as mães, saíamos para comer pizza.

Sempre tinha uma mãe chorando, e a gente abraça, dá apoio. Se a gente não se apega um ao outro, acaba ficando meio maluco.

Na UTI, eu cuidava muito dela, dava banho, trocava, dava mamadeira, aprendi a administrar medicação.

Mas a cada dia tinha uma notícia. A pior foi quando a Sophia teve uma hemorragia grave na cabeça.

Naquele dia briguei com Deus. Mas falamos com o neurocirurgião e ele disse que o organismo iria absorver.

A primeira cirurgia foi aos 17 dias. Poucos dias depois, viram que ela tinha uma malformação no esôfago. Essa cirurgia foi mais complicada. No dia seguinte, fui visitá-la e tinha um monte de médicos em volta. Ela não tinha cor de nada, e saí da sala chorando.

Mas os médicos fizeram um milagre, acharam a solução e ela foi melhorando.

Um belo dia a médica disse que dava pra ir com ela pra casa com "homecare". No dia 19 de dezembro, ela veio e passou o Natal com a gente. Nem dormimos na noite anterior de ansiedade.

A despedida foi emocionante porque criamos vínculos com médicos, enfermeiros e pais. Ao mesmo tempo, você tem receio de expressar sua felicidade, se sente mal pelos outros que estão lá.

Agora tem enfermagem 24 horas por dia em casa. Ela só usa cateter com fluxo de oxigênio, mas, com tudo que teve, está bem. Brinca, dá risada, é esperta.

Colocamos o vídeo no YouTube porque isso pode gerar esperança. Quero mostrar que é possível, que tem que ter fé. Eles são pequenos, frágeis, mas superguerreiros.


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