Folha de S.Paulo

Second Life ainda tem 1 milhão de habitantes

Em 2007, quem acompanhava o noticiário de tecnologia talvez imaginasse que o futuro da interação na internet seria o Second Life, com seus avatares humanoides que vagavam por mundos virtuais em 3D.

Sete anos depois, nesta realidade bidimensional de WhatsApp, Facebook e Snapchat, é razoável supor que o metaverso nem exista mais ou que, na melhor das hipóteses, esteja deserto.

Nada disso é verdade: apesar de não ter se tornado hegemônico, o Second Life tem mantido uma média de 1 milhão de usuários ativos nos últimos anos.

Numa manhã de quarta-feira, puxo conversa com algumas das dez pessoas que frequentam o simulacro da Praia do Forte, em Cabo Frio (RJ).

Thiago Reis, que ostenta tatuagens, cabelo espetado, óculos de aro grosso, terço pendurado no pescoço, regata de palhaço assassino e uma placa que diz "Adopt me" (adote-me), me ignora.

Já L3o Neox responde rapidamente às minhas perguntas. Para ele, o Second Life mudou bastante desde que começou a usá-lo, em 2010.

Diz Neox que hoje há muita "briga, intriga e discussão", geralmente por causa de namoro e família --é possível casar e ter filhos no mundo virtual.

"Tem gente que, se tem um avatar melhor que o do outro, já se acha superior." Ele conta ainda que muitos homens tentam se passar por mulher usando avatares femininos.

Quando pergunto nome real, idade e profissão, L3o Neox para de responder.

Eu havia chegado à Praia do Forte teletransportado por karithaaaa2000, que conheci no calçadão virtual do Rio.

Ela diz que usa o Second Life cinco horas por dia e que às vezes faz compras com a moeda virtual linden dollar.

O mundo 3D permite fazer coisas impossíveis ou ilícitas na vida real, como voar e incendiar propriedades alheias, mas os hobbies dela são os mesmos nas duas vidas: ir a praias e a baladas.

Ainda no Rio, peço a ela que me mostre as coisas mais legais do Second Life. karithaaaa2000 sobe em uma bicicleta e faz manobras em frente a um carro de polícia.

Na Praia do Forte, dança, surfa e me dá um beijo na boca. O único momento surreal é o show de um Bob Marley virtual em que folhas de maconha levitam. Durante a performance, ela fuma narguilé.

Depois das demonstrações, karithaaaa2000 diz "pronto, só isso, né?" e desaparece antes que eu consiga perguntar nome real, idade, profissão e se é mulher na vida real.