Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Tec

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Falta visão social ao Vale do Silício, diz empreendedor

Peter Sims, consultor de inovação de Google e Pixar, diz que Facebook é avesso a 'causas sociais mais amplas'

Pesquisador, que falará durante simpósio em Florianópolis na quinta, diz que brasileiros têm 'humildade cultural'

YURI GONZAGA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Apesar do potencial transformador que possuem, as empresas do Vale do Silício não têm preocupação social, salvo exceções. A visão é de Peter Sims, um dos nomes da inovação californiana e o autor de "Little Bets", citado entre os melhores livros de negócios de 2011 por "Wall Street Journal" e "Washington Post".

Sims, que é cofundador da start-up de empreendedorismo social Fuse Corps, vem ao Brasil nesta semana para o seminário Social Good Brasil (socialgoodbrasil.org), que acontece em Florianópolis entre amanhã e quinta.

Nesta entrevista, concedida por telefone à Folha, Sims enaltece a atitude "humilde" de empresários brasileiros que vão aos EUA e critica a dependência, por parte do Facebook, de Mark Zuckerberg.

Folha - As start-ups do Vale do Silício estão preocupadas com a questão social?

Peter Sims - Essa é uma boa pergunta. Não, eu não vejo as companhias se esforçando para resolver os grandes problemas do país, como a pobreza ou a fome, com a exceção das "social ventures" [companhias iniciantes filantrópicas]. Vejo as empresas tentando suprir necessidades das pessoas decidindo tudo a partir de um cubículo ou de cima para baixo, e isso não funciona nem quando o intuito é ganhar dinheiro.

E como fazer uso da tecnologia pelos mais pobres?

Acho que a resposta está justamente nas "social ventures". Um exemplo é a Kiva, que torna possíveis empréstimos entre pessoas ao redor do mundo, sem intermediários, pelo seu site, mas também vejo o Facebook enquanto um admirável uso da tecnologia.

Por quê?

O Facebook partiu de uma ideia brilhantemente inovadora, conectando pessoas entre si e fazendo-as com que se sintam mais próximas. O "feed de notícias" é inovador. Por não querer se politizar de qualquer maneira, contudo, acabam se mostrando avessos às causas sociais mais amplas, como nos episódios de revolta no Oriente Médio, quando se omitiram.

A reputação do Facebook está abalada desde sua entrada no mercado financeiro.

Eles estão tentando descobrir o que fazer com essa base de usuários gigantesca, mas não estão mostrando muito progresso. O problema do Facebook é que eles não prestam atenção de verdade no que o usuário quer. Mark Zuckerberg presta, mas a empresa não.

O Facebook depende demais de Zuckerberg?

No quesito inovação, sim. Da mesma maneira que a Apple já dependeu de um só gênio de produto. Acho que a Amazon, por exemplo, é muito mais inovadora que o Facebook por causa disso.

Como uma empresa pode propiciar a inovação?

É preciso fazê-la em pequenos passos. Há um medo muito grande do fracasso, que é simplesmente tentar resolver problemas e acabar apresentando soluções imperfeitas -o que eu acho que acontece na maior parte do tempo. Temos aprendido a fugir dos erros, mas é impossível criar sem fracassar.

E o que deveríamos aprender?

O sistema educacional -ao menos o americano- meramente treina as pessoas para minimizar danos. Isso é o que mais tem podado a criatividade das pessoas, impedindo-as de levantarem a cabeça e criarem. Pode ser que no Brasil isso seja diferente, mas vejo que em muitas partes do mundo a mentalidade é essa.

Você vê diferença entre brasileiros e americanos?

Muitos empresários que saem dos EUA rumo a mercados emergentes são arrogantes -e se dão mal. Acho que é porque nossa sociedade é mais individualista. Não há como levar uma ideia a um país sem considerar profundamente sua cultura -e os empreendedores brasileiros que conheço são muito mais humildes culturalmente.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página