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Doutor gamer

O clínico-geral Carlos Leonardo Cruz, o Levin, é o representante do Brasil na final do campeonato mundial do jogo 'StarCraft 2'

Lucas Lima - 15.jul.2012/UOL
Levin, 30, durante o torneio sul-americano de "Starcraft 2"
Levin, 30, durante o torneio sul-americano de "Starcraft 2"
ALEXANDRE ORRICO DE SÃO PAULO

À primeira vista, as duas principais atividades do paulista Carlos Leonardo Cruz, 30, não combinam.

Ele é médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e responsável pelo banco de sangue da cidade onde mora desde os 18 anos, Barra do Bugres, no interior do Mato Grosso.

Mas, quando não está de jaleco branco e estetoscópio, assume o apelido de Levin e comanda a raça alienígena Protoss, no game de estratégia "StarCraft 2", em campeonatos mundiais.

"Uma coisa complementa a outra. Sei que tomo decisões mais rápido e raciocino melhor por causa do meu treino diário no game. Isso me faz um médico mais preparado", afirma o jogador.

O clínico-geral será o único representante brasileiro na final do torneio mundial de "StarCraft 2", que acontece no próximo final de semana em Xangai, na China.

Levin garantiu a vaga em julho, ao conquistar o terceiro lugar na etapa sul-americana da disputa -na ocasião, os narradores das partidas exaltaram a "precisão cirúrgica de ataque" do médico.

Também estarão em Xangai o chileno Killer, 22, campeão sul-americano, e o peruano Fênix, 20, que ficou com a segunda posição. Ambos são jogadores profissionais, ou seja, ganham dinheiro tendo o game como ofício.

"De todos os que vão participar da final mundial, só eu não sou jogador profissional. Eles treinam 12 horas por dia, têm patrocínio, vivem disso. Eu só posso treinar duas horas por dia, e em fim de semana não jogo, por causa da minha profissão", diz Levin.

"MAROTAGENS"

No fórum oficial de "StarCraft 2", há muitas mensagens de apoio de outros "atletas". "Levin tem um jogo sólido, com bons ataques, contra-ataques, reviravoltas e marotagens", diz Doujutsu.

"Levin mostrou-se um jogador que improvisa bastante. Eu acho Tunico melhor, mas a experiência de Levin e a concentração dele fazem a diferença nos campeonatos", opina Leviathan, comparando Levin com o arquirrival Tunico, 20, que perdeu a vaga no mundial para o médico.

Os colegas de Levin ajudam. Quando precisa de horas extras para jogar ou viajar para torneios, o médico troca plantões, usa folgas ou compensa com trabalho dobrado.

VIDA PESSOAL

Lígia Malaquias, noiva de Levin há quase dois anos e namorada há 15 anos, fica constrita entre a vida de jogatina e os longos plantões.

"Em época de campeonato, é bem difícil, fico sem tempo. Dá bastante problema", diz Levin, rindo. "Ela já me conheceu assim, sabe que eu gosto muito de games. Mas sempre arranjo tempo, gostamos de ir ao cinema."

ROTINA PUXADA

Levin sempre gostou de competir. Joga desde criança e, em 2006, atuava profissionalmente. Tinha patrocínio para jogar e treinava muito -tudo em paralelo com a faculdade de medicina.

"Às vezes, eu tomava remédios para ficar acordado e conseguir tocar tudo. Mas ficou inviável fazer as duas coisas. Para terminar o curso, tive que parar com o jogo por um tempo", conta.

Questionado se viveria profissionalmente dos games se tivesse nova oportunidade de patrocínio, Levin hesita: "Eu ganho muito bem como médico: R$ 20 mil por mês. Como jogador, consigo tirar cerca de R$ 3.000. Mesmo com patrocínio, seria difícil equiparar o valor. Mas não é só pelo dinheiro; estou me especializando em neurologia e quero continuar. Eu sempre vou ser médico e gamer. Não largo nenhum dos dois".

PELO NARIZ

E por que Levin? De onde veio o apelido?

O médico explica, com certa vergonha: "Jogava com meu nome mesmo. Mas vi que todos usavam codinomes variados, como Killer, Fênix, Falcon etc. Decidi que precisava de um também. No momento, tinha acabado de estudar medicina e ler sobre uma sonda nasogástrica chamada Levin. Achei o nome legal e entrei em um jogo com ele. Ficou até hoje!".


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