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Zeca Camargo

"Cabrochkayas" na passarela

O hotel no Uzbequistão preparou uma festa de Carnaval que mais pareceu noite em cassino de Mônaco

Foi um Carnaval inesquecível aquele em Tashkent. Tudo bem que a gente estava do outro lado do mundo. E tudo bem que era julho. Estava quente na capital do Uzbequistão, e isso já era motivo para o hotel onde eu me hospedava estampar um cartaz bem na recepção convidando todos os seus hóspedes para a "Grande Noite de Carnaval do Brasil"!

Seria apenas uma coincidência ou talvez uma iniciativa do hotel que, quando viu que receberia dois hóspedes brasileiros (eu e o repórter cinematográfico que me acompanhava), preparou uma surpresa? Quando tentei descobrir, fa-zendo algumas perguntas para os sempre desconfiados funcionários uzbeques (as cicatrizes de um passado soviético nunca são fáceis de fechar), percebi que aquele era um evento único, fruto da iniciativa dos "animadores sociais" do hotel. Tratava-se de uma "nova experiência". E nós, na qualidade de brasileiros, nos tornamos imediatamente "cobaias de honra".

Chegamos na noite da festa depois de uma longa viagem de um dia só até Samarkand, onde gravamos uma reportagem. Cansados, mas ao mesmo tempo animados com a perspectiva de uma noite de samba! Já estávamos há algumas semanas longe do Brasil, dando uma volta ao mundo, e o tal "Carnaval", por mais improvisado que fosse, ajudaria a matar as saudades. Pelo menos era isso que eu achava...

Quando cheguei, de banho tomado, ao jardim do hotel, a visão não poderia ser menos carnavalesca. Casais vestidos como numa noite num cassino chique em Mônaco, bebiam vodca e uísque em copos largos, enquanto uma música eletrônica que, bem de longe, lembrava uma salsa, tentava criar um ambiente de animação. Seria um "aquecimento", uma espécie de "concentração", antes de a escola entrar na avenida? Isso mesmo.

O mestre de cerimônias, que se apresentou como Sasha, recebeu-me com honras de embaixador, e disse para eu tomar um drinque, relaxar, que o "desfile" já ia começar. De fato, poucos minutos depois, numa passarela improvisada, um punhado de mulheres esculturais --quase todas dali mesmo, da região da Ásia Central-- entram vestidas com fantasias que mais uma vez nos remetiam mais a uma noite num cassino chique do que à passarela do samba! Mas o básico estava lá: plumas e pouca roupa.

E não é que o pessoal animou? Bastou as "cabrochkayas" (como batizei as "meninas") subirem nas mesas que a "gringaiada", um mix de turistas ocidentais, homens de negócio de origem obscura e um ou outro jornalista brasileiro, enlouqueceu. Os ritmos latinos deram lugar ao pop "pesado" --lembro de dançar Kelis cantando "Milkshake" (Uzbek Remix)-- e a festa saiu do jardim para o salão de convenções do hotel, convidando a todos para romper a madrugada na farra.

Por breves momentos senti que a animação poderia talvez chegar no nível de erotismo de um bom baile de Carnaval no Brasil. Mas o Uzbequistão ainda é um país conservador (e não deve ter mudado muito nos últimos dez anos, desde que estive lá). Mas ninguém pode dizer que não se divertiu naquela "noite brasileira" em Tashkent.

Sambar mesmo, ninguém sambou. Mas todo mundo foi dormir feliz, como se o Carnaval fosse eterno e atemporal. Mas será que não é isso mesmo? Não importa o lugar, mas sim a festa!

Tashkent, Sapucaí, Salvador, Caribe --não é que uma vez encontrei uma escola de samba no Japão? Mas essa é uma história para outros carnavais...


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