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Entrevista Fady Abboud

Jovem descendente pode ter subsídio de 50% em viagem

MINISTRO DO TURISMO DO LÍBANO GARANTE RETOMADA DE VOO DIRETO E SONHA EM TER SEU PAÍS COMO TEMA DE ESCOLA DE SAMBA

RAFAEL MOSNA DE SÃO PAULO

"Sabe me dizer quantas mortes ocorreram ontem em São Paulo?"

A pergunta, uma das primeiras frases ditas pelo ministro -que esteve na semana passada no Brasil para promover o turismo de seu país- minutos antes do início da entrevista, já antecipava a comparação que ele faria entre Beirute e São Paulo. "Eu sei que você vai me perguntar sobre a violência no Líbano, e mudar esse estereótipo do meu país é uma das minhas grandes batalhas."

A seguir, veja os principais trechos da entrevista.

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*Folha - Há 15 anos, a MEA [Middle East Airlines] fazia a rota entre Brasil e Líbano. Há planos de retomar esse voo?

Fady Abboud* - Sim. Existem planos muito fortes de voar para São Paulo novamente. Entre Brasil e Líbano não há uma questão só de economia. É um sentimento muito especial. Os primeiros libaneses vieram para este país em 1840. Nós não nos importamos se vamos ganhar dinheiro com o voo ou não. Para nós, deve ser uma conexão diária. Nós amamos este país e, mesmo politicamente, nós nos aproximamos mais do Brics do que das maiores potências mundiais.

E há uma estimativa de quando esse voo seria retomado?

Eu acho que acontecerá nos próximos meses. Nós analisaremos essa questão seriamente, independentemente de prejuízo ou lucro.

O Brasil tem a maior comunidade de libaneses e descendentes fora do Líbano. Há alguma ação para promover o turismo no país com essa comunidade?

O lema da minha viagem é: "Você ama o Líbano, visite o Líbano". E existem muitos programas de volta às raízes. Eu quero subsidiar 50% da viagem dos jovens descendentes entre 18 e 25 anos que nunca foram ao Líbano.

Mas não estou baseando meus planos somente em nostalgia ou em sentimentos. Sou um homem de negócios. Sempre me contam sobre essas novelas no Brasil. Não consigo imaginar uma história melhor do que a história dos libaneses que vieram [ao Brasil] em 1840. Por outro lado, o samba e o Carnaval, eu gostaria muito de ver o Líbano como tema de escolas...

E está fazendo algo prático em relação a isso?

Com certeza. Não é um sonho somente.

Já falou com alguma escola?

Estou aqui há uma semana... Em algumas das escolas os diretores são libaneses ou descendentes, e aí esse plano pode avançar. Estou dizendo o que estou tentando fazer.

O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, esteve na recepção promovida pelo sr. na casa do cônsul do Líbano. Conseguiu conversar com ele sobre negócios?

Havia centenas de pessoas e não conseguimos discutir negócios. Mas eu tirei do sr. Haddad uma decisão, uma promessa: ele me prometeu que iria para o Líbano. Isso é muito, muito importante para nós, que ele vá e veja a terra de seus ancestrais.

Este ano não tem sido bom para o turismo no Líbano...

A principal razão é que cerca de 40% do nosso turismo é turismo árabe, especialmente do Golfo. E os países do Golfo colocam muita pressão no Líbano, porque querem que o país se torne mais ativo em relação ao apoio à revolução na Síria e ao Exército Livre da Síria. Nós, o povo libanês, sentimos que queremos ficar de fora, sem interferir com a Síria. Queremos apenas sentar e assistir. Nós somos muito pequenos para isso. Então, estão colocando muita pressão e boicotam o Líbano, ao menos turisticamente.

O Líbano tinha um turismo bem forte antes da guerra civil. Hoje, o país está totalmente recuperado?

Não éramos somente um destino popular, éramos um destino único e a conexão entre o Oriente e o Ocidente.

Veio a guerra civil, e agora estamos tentando nos reconstruir. Eu pessoalmente acho que cometemos alguns erros nos últimos 20 anos. Tomamos o caminho mais curto. Queríamos que o Líbano fosse o playground dos árabes para os turistas do Golfo. Acho que cometemos um erro. Eles são muito bem-vindos, não me entenda mal.

E a poluição do mar, como foi resolvida?

Tudo isso está sendo tratado. Sim, o oceano foi usado como um depósito de lixo, mas, nos últimos dez anos, nós fizemos a limpeza e retiramos tudo que causasse poluição.

Está totalmente limpo agora?

Sim. Ouso dizer que as seções do mar Mediterrâneo abertas ao público são testadas diariamente.

Antes de começarmos a entrevista, comentamos sobre o medo que as pessoas ainda têm de viajar ao Líbano. O que está sendo feito sobre isso?

Existe um estereótipo em relação ao Líbano que eu preciso modificar.

Vamos tomar o que está acontecendo na Síria. A maioria dos repórteres estão baseados em Beirute, não em Damasco. Por quê? Porque Beirute é muito mais segura. Sim, é um país vizinho, mas, do ponto de vista de segurança, acredite em mim, Beirute é provavelmente mais segura que muitas cidades do Brasil, do México, dos Estados Unidos ou da Europa.

Em Beirute, se dois carros forem roubados em uma semana, isso vira uma grande notícia. Praticamente não existem roubos pequenos. Temos incidentes, mas nada como São Paulo, por exemplo, onde existe o problema de segurança.

Algumas semanas atrás tivemos um assassinato político. Isso não ajuda minha luta, mas assassinatos políticos podem ocorrer em qualquer país.

Cite três lugares imperdíveis para conhecer no Líbano.

Jeita, que perdeu por três votos para a Foz do Iguaçu, realmente é algo para se conhecer, porque está intacto pela mão do homem.

Os templos romanos mais importantes da Terra, em Baalbek, são uma das maravilhas do mundo. Na verdade, é muito importante de se ver.

A noite de Beirute, os brasileiros vão ficar loucos. Você pode ir a um pub e se sentir como se estivesse no East End em Londres. Você pode ir a um café e é como se estivesse em Paris. E você pode ir aos restaurantes libaneses. É realmente um caldeirão de misturas entre o Oriente e o Ocidente.

Na minha opinião, o melhor lugar para se esquiar, e para o "après-ski" -porque o "après-ski" é mais importante do que esquiar [risos]- é no Líbano. Imagine que você está esquiando e vendo o Mediterrâneo. Em março, você pode esquiar na neve de manhã, e, em meia hora, esquiar na água, o que é único.


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