Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Veículos

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Lelekização' do luxo

Marcas premium apostam em carros mais 'acessíveis' para despertar a atenção de novos compradores

FELIPE NÓBREGA DE SÃO PAULO

Quem um dia imaginou que a Mercedes iria escolher um funk carioca para embalar o comercial de um novo carro de luxo da marca?

Apesar da aparente despretensão, o refrão "ah, lelek lek, lek" da música "Passinho do Volante", do MC Federado e os Leleks, serviu para a marca alemã exibir uma imagem menos sisuda e abrir suas portas para outro tipo de público que, até então, não costumava incluir o importado em sua lista de desejos.

O anúncio fez sucesso na internet e atraiu olhares para o novo Classe A, hatch de R$ 99,9 mil lançado no mês passado. Hoje, quem quiser terá de esperar quatro meses para recebê-lo. Outra "isca" é o médio C180 (R$ 125 mil), o sedã mais acessível da marca.

"Para facilitar esse salto [do carro de luxo nacional para o importado premium], financiamos a diferença em até 12 vezes sem juros", afirma Dirlei Dias, gerente de marketing da Mercedes.

Outras montadoras de prestígio, como a BMW, a Audi e a Volvo, adotam estratégia semelhante. Todas sabem que basta descer um degrau na tabela de preços para que o número de potenciais consumidores aumente de forma vultosa.

Segundo dados de importadoras, cerca de 600 carros importados que custam acima de R$ 150 mil são emplacados mensalmente no país. O montante sobe para 4.500 se forem somados também os modelos que custam a partir de R$ 100 mil.

RISCO

Para o especialista em gestão de marcas Jaime Troiano, as montadoras premium estão correndo um risco ao tentar elevar seus volumes de vendas com produtos menos equipados e mais acessíveis.

"A longo prazo, o consumidor pode frustrar-se e até perder o encanto pela marca que ele tanto idolatrava no passado", analisa.

Foi o que quase aconteceu com o executivo Aparecido Nascimento, 43. Em 2011, ele decidiu trocar seu Toyota Corolla usado, porém completo, por um BMW 320i de entrada, zero-quilômetro.

"O sedã alemão é muito superior em mecânica e segurança. Mas não gostei de ter um carro bem mais caro sem GPS, bluetooth e sensor de ré, acessórios de que eu dispunha no meu antigo nacional e que eram bastante úteis."

Nascimento pôs à venda seu BMW de interior caramelo, mas não desistiu da marca. "Vou pegar outro, novo, só que mais recheado'."

Em geral, a diferença de preço entre a versão de entrada e a imediatamente superior de um modelo premium é de aproximadamente R$ 20 mil. Se houver ainda um upgrade de motor e câmbio, a diferença sobe para R$ 50 mil, fazendo o preço do carro beirar os R$ 170 mil --o dobro do de um topo de linha nacional.

CAMINHO SEM VOLTA

Além do status extra e da vaga garantida na porta do restaurante, o dono de um veículo premium tem outros benefícios, de acordo com Lothar Werninghaus, consultor técnico da Audi.

"Esses modelos diferem-se dos demais pelo patamar elevado de qualidade construtiva, larga utilização de tecnologias de ponta, dinâmica apurada e maior resistência a impactos. Por isso, depois que um motorista experimenta um carro premium, dificilmente vai aceitar um inferior, mesmo que para isso ele tenha que abrir mão de alguns itens de conveniência."

Mecânicos, no entanto, alertam motoristas de primeira viagem: manter um importado premium, mesmo usado, também é mais caro.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página