Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Retrovisor
DENIS CISMA denis@cisma.com.br
O Orbitron e os "lowbrow"
Uma das principais obras-primas da contracultura californiana dos anos 1960 foi um dragster modificado
Se a cultura dos "hot rods" e carros custom possui um mascote, certamente é o personagem Rat Fink, do artista Ed "Big Daddy" Roth. O monstruoso rato verde de olhos esbugalhados e com as mãos para trás foi desenhado pela primeira vez em um guardanapo, como piada para ilustrar como seria o pai do Mickey Mouse.
Ed Roth, o cartunista Robert Crumb e o pintor Robert Williams podem ser considerados os pais do movimento de arte "lowbrow".
A vertente nasceu na Los Angeles dos anos 1960 e tem suas raízes na cultura marginal dos quadrinhos, hotrods, rock, música punk, filmes de ficção científica, surf e tatuagens.
Essa forma de arte critica, com sarcasmo e bom humor, desafia padrões estabelecidos e é feita para chocar. Ao mesmo tempo, mostra técnica e acabamento impecáveis.
Uma das obras-primas da arte "lowbrow" é a escultura funcional chamada Orbitron, um "dragster" futurista produzido em 1964.
Roth se inspirou em uma novidade na época: a TV a cores. O farol assimétrico do Orbitron tinha lâmpadas nas cores primárias da luz (vermelho, verde e azul) para que, juntas e de longe, fossem percebidas como uma única luz branca.
Incompreendido, o Orbitron foi um fracasso em exposições de carros na época. O próprio criador Ed Roth nunca gostou dele. Dizia que cometeu um erro grave por não deixar o motor à mostra. Acabou vendendo o protótipo.
O veículo ficou 35 anos desaparecido até ser encontrado no México, em 2007. Estava em frente a um sex shop, sendo usado como caçamba de lixo.
Restaurado por Beau Boeckmann, da Galpin Auto Sports, ressurgiu glorioso graças à ajuda dos construtores originais do carro. O pintor ainda guardava em seu arquivo a fórmula da tinta.
Recentemente, o carro foi exposto na galeria Kayne Griffin Corcoran, em Los Angeles, no seu devido lugar: como uma obra de arte.