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'Nunca tive dúvidas de que este seria o país do automóvel'
Presidente da Volkswagen entre 1973 e 1993, Wolfgang Sauer é o "pai" do Gol
Após a reunião no gabinete, Wolfgang Sauer, então presidente da Volkswagen do Brasil, segue para a casa de Mario Henrique Simonsen (1935-1997), ministro da Fazenda entre 1974 e 1979. O anfitrião coloca um vinil na vitrola e a dupla se põe a entoar árias entre taças de vinho e muito papo.
Eis um exemplo do que foi a "era Sauer", marcada pela conversa fácil com operários ou com chefes de Estado.
Ele esteve à frente da VW entre 1973 e 1993. Da janela de seu escritório na fábrica de São Bernardo, viu o Gol nascer e o Fusca morrer.
Aos 82 anos, Wolfgang Sauer tem sua biografia lançada pela editora Geração. O executivo falou à Folha na última quarta-feira, véspera do lançamento de
"O Homem Volkswagen".
Folha - Depois de presidir a Bosch na Venezuela, o senhor foi transferido para o Brasil. Como foi sua chegada à Volkswagen?
Wolfgang Sauer - Uma confusão tremenda. Logo comecei a avaliar os produtos dentro da fábrica e a definir os próximos passos da empresa. Todos os principais carros da marca foram lançados na minha época. Fizemos tudo aqui, sem a interferência da matriz. São produtos realmente nossos.
Folha - Mas era preciso ter a concordância de Wolfsburg [cidade-sede do grupo Volkswagen]. Foi difícil aprovar o projeto do Gol?
Sauer - Não, eles gostaram de imediato. eu sempre fui muito claro na relação com a matriz.
A indústria de então já havia percebido o que viria a ser o mercado brasileiro?
Já, com certeza. Nunca tive dúvidas de que este seria o país do automóvel.
O senhor parece ser um alemão bastante apaixonado pelo Brasil.
Admito que sim, foi amor à primeira vista.
Mas como era tocar uma indústria no país em tempos de tantas mudanças políticas e monetárias?
Dava trabalho, mas seguimos em frente. Nosso setor contábil virou referência na indústria e conquistou a admiração dos alemães.
Dizem que o senhor conseguia saber se estava tudo correndo bem no chão da fábrica apenas olhando pela janela de seu escritório.
Eu fazia equitação às 7h, e às 8h já estava em minha sala, de onde via o trabalho dos operários na linha de montagem. Sempre me preocupei com a fábrica, e dali eu conseguia observar se a produção ia bem ou se ia mal.
O senhor acompanhou a grande mudança da VW: a passagem da geração Fusca, com modelos de tração traseira e refrigerados a ar, para automóveis de tração dianteira, a começar pelo Passat e, depois, o Gol.
Foi uma evolução contínua. Primeiro o desenho do projeto, depois o produto final, seu lançamento e aperfeiçoamentos ao longo do tempo. Dizem que o Volkswagen Gol é "o carro do Sauer", mas considero que todos os modelos atuais são meus também.
Como foi o período da Autolatina [parceria com a norte-americana Ford que começou em 1987 e terminou em 1996]?
Considero que foi uma experiência muito positiva para todos. Conhecemos as vantagens que os americanos apresentavam, houve uma complementação de trabalhos.
A Ford só não conseguiu produzir um best-seller como o Gol. Qual é o segredo do sucesso desse carro?
As pessoas gostam dele por oferecer o que elas esperavam. Este sempre foi o norte da minha gestão: perceber o que o público queria.