STEVEN ZEITCHIK
DO "WASHINGTON POST"

O mural no escritório de Todd Lieberman exemplifica o ano atípico que o produtor de cinema viveu.

Ocupando parte da parede em uma sala no complexo dos estúdios Disney, a peça retrata uma mulher portando uma rosa, uma tatuagem, e a palavra "wonder" (maravilha). O mural representa os filmes "O que te Faz Mais Forte", "Extraordinário" e "A Bela e a Fera", que Lieberman e seu sócio David Hoberman produziram em 2017 na Mandeville Films, parceira da Disney.

É muito difícil produzir um filme na Hollywood atual, obcecada por franquias, mas a Mandeville conseguiu emplacar três em 2017.

Em uma Hollywood retratada como máquina sem rosto, Hoberman, 44, e Lieberman, 65, são epítomes de produtores muitos humanos, diretamente envolvidos no controle de cada trabalho.

"A Bela e a Fera" surgiu quando executivos da Disney pediram a Lieberman e Hoberman que desenvolvessem um roteiro que estava em gestação há muito tempo.

O orçamento superior a US$ 150 milhões significava um novo tipo de aposta, tanto para Hollywood quanto para a Mandeville. Mas o diretor Bill Condon e o roteirista Stephen Chbosky, contratado para reformular o projeto, encontraram a mistura correta. Favorecida pela presença de Emma Watson, a aposta deu certo e resultou em US$ 1,3 bilhão de faturamento mundial.

"O que te Faz Mais Forte", baseado na história real de Jeff Bauman, uma das vítimas do atentado contra a Maratona de Boston em 2013, aconteceu de modo mais orgânico. Lieberman e Hoberman descobriram a história por meio de um agente –Bauman ainda não havia começado a escrever seu livro.

Embora o filme não tenha sido grande sucesso comercial, conquistou críticas favoráveis. O astro do filme, Jake Gyllenhall, é cogitado para uma indicação ao Oscar.

Mas talvez "Extraordinário" seja o mais surpreendente dos três títulos –uma história positiva sobre um menino com diferenças faciais, baseada no livro de R.J. Palacio.

Informados sobre o romance na época em que estava sendo publicado, Lieberman e Hoberman marcaram uma reunião com Palacio, que lhes concedeu o direito de tentar produzir um filme.

E as rejeições não demoraram. Pouca gente em Hollywood havia ouvido falar do livro, e ninguém acreditava que uma adaptação tivesse chance de sucesso. Roteiristas sugeriram que a produção mostrasse o rosto do menino no fim.

As recusas ajudaram porque enquanto isso o livro ganhou popularidade. Não demorou para que Julia Roberts contatasse a Mandeville para pedir um papel. Produzido ao custo de US$ 20 milhões, "Extraordinário" arrecadou mais de US$ 115 milhões nos EUA. Mas o filme não foi realizado por um grande estúdio.

A Disney recusou o projeto apesar de seus atrativos. Produzir filmes por US$ 20 milhões já não desperta o interesse do estúdio; as expectativas de bilheteria de um projeto como esse jamais serão comparáveis às um filme com os heróis da Marvel ou com a trupe de "Star Wars".

"Extraordinário" foi produzido pelo Lionsgate, estúdio de segundo escalão (a Disney continua a receber parte da receita, devido à sua parceria com a Mandeville).

Lieberman não se referiu especificamente à rejeição da Disney, mas disse que "compreende que o projeto era um risco; estamos felizes por termos encontrado um parceiro apaixonado pela ideia e que topou realizá-la".

Manter a relevância em um setor por natureza instável pode ser complicado. Nos próximos meses, o sucesso da Mandeville dependerá do equilíbrio entre gosto pessoal e imperativos empresariais. Mas não haverá quem conteste o sucesso da produtora em 2017.

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