Peruano PPK tem qualidades e formação de dar inveja a americanos

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Às vésperas da eleição norte-americana, o renomado economista Tyler Cowen escreveu uma coluna no site da Bloomberg com este título: "Está desapontado com Clinton e Trump? Então, tem um sujeito no Peru".

No texto, Cowen enumerava as qualidades que gostaria de ver num presidente norte-americano, mas que não encontrava de jeito nenhum nos dois então candidatos ao cargo, e sim em... Pedro Pablo Kuczynski.

Entre elas: tem experiência no setor público (foi ministro da economia) e no privado, é bem relacionado internacionalmente, fez mestrado em Princeton, estudou filosofia, política e economia, trabalhou no Banco Mundial e no FMI, viveu muitos anos em Washington, está casado com uma americana e fala inglês fluente. Ainda, foi co-presidente de um banco de investimentos em Boston e fundou uma empresa para orientar investidores interessados em fazer negócios na América Latina.

A coluna de Cowen tinha claro tom de provocação aos norte-americanos. Mas, de fato, PPK, apesar de não ter sido um bom candidato –ganhou apertado no segundo turno contra Keiko Fujimori– reúne qualidades e uma formação que poucos líderes latino-americanos de hoje possuem.

No Peru, seu apelido é "gringo", por falar espanhol com sotaque de estrangeiro, pelo tempo que passou fora do país e por detalhes de sua vida pessoal, como ter estudado flauta no Royal College of Music, da Inglaterra, e ter em casa um piano que pertenceu ao britânico Noël Coward.

Se no Peru seu governo tem sido irregular –pela dificuldade de aprovar projetos num Congresso de maioria fujimorista, pela desaceleração da economia, por conflitos com o setor da mineração–, do ponto de vista da política externa PPK tem surgido como um improvável líder regional.

Com o Brasil voltado à sua crise interna, a Argentina demorando mais tempo do que o prometido pelo presidente Mauricio Macri para despontar, o México com suas dificuldades para baixar o nível de hostilidade do presidente americano, Donald Trump, e a Colômbia com a atenção voltada à implementação do acordo de paz, restam poucos com credenciais e visão mais ampla para as preocupações regionais.

No fim do ano passado, durante a Cúpula Iberoamericana, em Cartagena, PPK foi o único dos presentes a fazer críticas duras e diretas à Venezuela. Neste ano, foi o primeiro a prestar solidariedade ao México com relação aos avanços de Trump, e vem expressando em diversos fóruns ser favorável à uma maior abertura comercial entre os países da região, à manutenção da Parceria Transpacífico (TPP) e de uma presença mais atuante do Peru na Aliança do Pacífico.

Para muitos pode parecer estranho que o primeiro líder latino-americano a se encontrar com o novo presidente dos EUA seja um mandatário peruano.

Mas talvez, mesmo com sua popularidade interna em descenso (iniciou o governo com 70%, agora está com 43%) e com as limitações da idade (está com 78 anos), PPK pode ser, por sua trajetória de vida e sua experiência empresarial e pública, o líder latino-americano que hoje melhor possa transmitir uma mensagem em nome da região a Trump.

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